Vivemos a era do excesso. A todo momento, somos bombardeados por uma avalanche de conteúdos, opiniões, notícias e imagens vindas de todos os lados. Mas nesse mar de vozes digitais, uma pergunta inquietante ressurge: onde está a verdade? E mais – quem decide o que vemos?
Nas redes sociais, o que parece espontâneo, livre e democrático é, na verdade, altamente controlado por algoritmos. O algoritmo, nesse contexto, é um conjunto de regras matemáticas que observa nosso comportamento (o que curtimos, comentamos, compartilhamos, assistimos) e, com base nisso, seleciona o que será mostrado em nossos feeds. Em vez de nos apresentar o mundo, essas redes nos entregam bolhas cuidadosamente personalizadas, onde vemos apenas o que mais nos agrada – ou o que mais nos irrita.
Essa segmentação algorítmica transforma cada usuário em um público exclusivo. O problema é que, nessa lógica, a verdade se fragmenta. O que é relevante para uns, nem sequer aparece para outros. O que se torna viral, nem sempre é o mais importante – é apenas o mais chamativo. E o conteúdo mais confiável pode ser invisível, simplesmente porque não gera tanto engajamento quanto uma teoria da conspiração ou uma polêmica artificial.
Michel Foucault já advertia: “a verdade não é o oposto do erro, mas sim algo submetido a regimes de poder”. Em outras palavras, a verdade que consumimos é moldada por quem controla os canais de comunicação. Já Zygmunt Bauman nos alertava sobre o mundo líquido, onde tudo se dissolve rapidamente – inclusive os fatos. No ambiente digital, a velocidade supera a precisão, e a indignação vale mais que a apuração.
Por isso, ainda que a TV aberta pareça antiquada para muitos, ela continua sendo uma referência de informação com responsabilidade editorial. Veículos como a Globo, a CNN ou a BBC têm compromissos com apuração, revisão de fatos e responsabilidade pública. Seus erros têm consequências legais e institucionais. Já no Instagram ou no TikTok, a informação corre solta, sem filtro, sem autoria clara, sem lastro de veracidade.
Isso não significa que a velha mídia seja infalível, nem que devamos desprezar os novos meios. Pelo contrário: a liberdade de expressão nas redes sociais é uma conquista. Mas essa liberdade vem acompanhada de um novo tipo de responsabilidade: a de formar um leitor crítico, consciente de que nem tudo que reluz no feed é verdade.
Estamos, portanto, diante de um novo paradigma: a era em que a verdade precisa ser garimpada, não mais recebida pronta. Precisamos aprender a desconfiar, comparar fontes, buscar contextos. O papel da educação, da imprensa e da filosofia é justamente esse: ensinar a discernir em meio ao caos informacional.
A ética da IA no Poder Judiciário será um dos temas discutidos no curso O Futuro do Direito: Impactos e Oportunidades com os Avanços da Inteligência Artificial e Outras Tendências, que acontecerá no dia 23 de maio de 2025, no Alphapark Hotel, em Goiânia. A crescente automação no sistema jurídico levanta questões fundamentais: quem programará os algoritmos que influenciam decisões judiciais? Como garantir que a tecnologia não amplifique desigualdades ou comprometa direitos fundamentais? Se a inteligência artificial pode otimizar processos e ampliar o acesso à justiça, também impõe desafios éticos e jurídicos que exigem reflexão profunda. Afinal, a quem servem os algoritmos que regem nossas decisões?
A inteligência artificial, por sua vez, entra nesse cenário como uma nova fronteira. Se por um lado pode ajudar a detectar fake news, organizar informações e personalizar experiências de forma ética, por outro, pode reforçar preconceitos, esconder fatos ou amplificar mentiras.
No fim das contas, a pergunta que nos resta é antiga, mas mais urgente do que nunca: quem controla a informação, controla o mundo. E, neste tempo de algoritmos, precisamos decidir se seremos apenas consumidores passivos ou agentes conscientes na construção da verdade.
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