Conheça os 3 trunfos de Caiado na corrida presidencial e saiba por que ele é um candidato viável para 2026

“Hoje, Goiás virou Bahia e Bahia virou Goiás”. A frase foi dita na última sexta-feira, 4, pelo ex-ministro da Justiça e atual senador da República, Sérgio Moro, no evento que marcou o lançamento da pré-candidatura de Ronaldo Caiado à presidência da República. O ato foi realizado no Centro de Convenções de Salvador e reuniu milhares de pessoas, incluindo lideranças políticas e apoiadores tanto de Goiás quanto da Bahia. Apenas de Goiás, marcaram presença cerca de 130 prefeitos, além de 30 dos 41 deputados estaduais e representantes de entidades, partidos e movimentos políticos.

Como evento de pré-campanha, o ato, por óbvio, foi marcado por críticas à gestão federal – atualmente conduzida pelo presidente Lula da Silva, do PT -, sobretudo no que tange à área da segurança pública, e reafirmação do “combate à esquerda”. O próprio lema do jingle de Caiado, por exemplo, incentiva a população a “endireitar o Brasil”.

Apesar do cenário que se desenha, o de que o governador de Goiás será mais um no rol de líderes políticos que devem disputar o Palácio do Planalto em 2026 dentro do espectro direitista, ele pode ter um trunfo (ou mais de um) a seu favor.

O primeiro deles é a independência dentro de um posicionamento que, até pouco tempo, se viu dominado por uma figura única. É preciso, primeiro, elucidar o impacto disso. Desde que foi eleito presidente do Brasil em 2018, o agora ex-presidente Jair Bolsonaro tomou para si a bandeira de representante legítimo da direita. Intencionalmente ou não, o político do PL conseguiu algo até então inédito na história política da direita no país: construir um movimento próprio, engajado e orgânico em torno de uma personalidade que, por sua vez, representaria os valores e princípios defendidos por aquele grupo.

O bolsonarismo, como apontam cientistas políticos, tornou-se um fenômeno maior que próprio Bolsonaro. Inflamados por ataques às instituições democráticas, defesa do que chamam de “valores da família tradicional” e repúdio ao Partido dos Trabalhadores e a tudo o que possa ser considerado “de esquerda”, os intitulados “bolsonaristas” podem ser descritos como seguidores fiéis de uma ideologia tida como conservadora e avessa ao “esquerdismo”.

Como efeito da onda bolsonarista, milhares de prefeitos, deputados e vereadores, e também vários governadores dos estados, foram eleitos ou reeleitos “sob a aba” do ex-presidente e do movimento nascido dele. Tornou-se uma regra implícita receber a bênção de Bolsonaro para concorrer a um mandato se intitulando “de direita”. A adesão irrestrita ao bolsonarismo, no entanto, agora, pode resultar no “pagamento de uma dívida” por parte daqueles que tentam a sobrevida no meio político.

Trunfo 1

Acontece que Bolsonaro e sua inelegibilidade (o ex-presidente está impossibilitado de concorrer nas próximas eleições, por decisão da Justiça Eleitoral) acabaram se transformando, mesmo que eles neguem, um grande elefante branco no meio da sala dos bolsonaristas. Mesmo sem a possibilidade de ter seu nome nas urnas em 2026, Bolsonaro insiste, em suas próprias palavras, que ele é “o plano A, B e C”. Ou seja, o ex-chefe do Executivo federal ainda acredita que pode ser o candidato da direita no ano que vem, e se recusa a nomear um sucessor.

É quando entra o primeiro trunfo de Caiado. Enquanto cotados para concorrer ao Planalto como candidatos da direita aguardam impacientes, no “sinal amarelo”, o aval de Jair Bolsonaro para emplacarem suas articulações, Ronaldo Caiado corre por fora e já coloca suas peças no tabuleiro. O goiano vem de uma vertente tradicional e perene da direita no Brasil, e mesmo com boa relação com Bolsonaro, faz questão de demonstrar que não depende dele para concorrer. É do gosto do governador lembrar, por exemplo, que, ainda na década de 80, fazia oposição ao PT e Lula, época em que se colocava como como um defensor contundente da propriedade privada e do movimento ruralista e um crítico ferrenho do movimento sem-terra.

Caiado em Salvador, durante lançamento de sua pré-candidatura | Foto: Divulgação

Enquanto possíveis candidatos como o governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ratinho Júnior, do Paraná – ou até membros da família Bolsonaro, como Michelle e Eduardo -, aguardam temerosos os passos do ex-presidente para, aí sim, darem os seus próprios, e não ousam sequer mencionar que querem disputar a presidência, Caiado lança sua pré-candidatura em grande evento no reduto petista do país e articula de maneira ininterrupta.

O fato é que a postura insubmissa do governador atrai a atenção inclusive do próprio Bolsonaro. Destaca-se: na semana retrasada, Bolsonaro procurou Caiado (e não o contrário) em um ensaio de reaproximação (após um afastamento gerado pelas eleições municipais de 2024. Em Goiânia, os dois ficaram de lados opostos no pleito, com Caiado saindo vitorioso com a eleição de Mabel). Caiado, por sua vez, tem elogiado Bolsonaro em suas últimas declarações e defendido que ele “não está fora do jogo”. O pré-candidato, claro, trabalha para atrair Bolsonaro para seu projeto, mas evidencia que ele seria um fator de fortalecimento – e não condicionante.

Trunfo 2

Ao mesmo tempo em que articula para atrair um eleitorado “órfão” de líderes elegíveis, Caiado se posiciona como uma alternativa moderada dentro da direita – o que pode ser considerado outro trunfo.

Uma pesquisa elaborada pelo instituto DataSenado em parceria com a Nexus, divulgada no ano passado, apontou que a maioria da população de eleitores não se identifica com nenhum posicionamento político. Conforme o levantamento, que ouviu pessoas de todos os estados dos dias 5 a 28 de junho de 2024, enquanto 29% se dizem de direita, 15% se intitulam de esquerda e 11% de consideram de centro, 40% ficaram indiferentes à questão ideológica.

A pesquisa realça uma realidade mencionada, inclusive, por Ronaldo Caiado: o brasileiro está cansado de radicalismo e polarização. Em entrevista concedida à imprensa no final do ano passado, o goiano afirmou que as últimas eleições municipais provaram “que ninguém aguenta conviver com extremismos de lado algum”. “Chega, o povo não tolera isso mais, o povo cansou desse discurso enjoado. O Brasil tem que voltar àquilo que é de interesse do cidadão […] O que precisa acabar é com essa tese de que, ganhou a eleição, um vai pro céu e o outro vai pro inferno. Isso que precisa acabar, é com esse nível de radicalização. É um falso dilema ideológico, se você não comungar daquela tese, aí você vira comunista, vira a pior das pessoas. A população não quer mais viver com isso, ela cansou, ela quer resultados”, disse.

A moderação dentro de um espectro que caiu em descrédito para boa parte da população devido a posturas radicais (e, por vezes, até criminosas), como o ataque às instituições democráticas, às vacinas e às minorias pode convencer justamente direitistas e centristas que, mesmo frustrados com o radicalismo da direita, se opõem a migrar para a esquerda.

Trunfo 3

O terceiro trunfo de Ronaldo Caiado será, também, o principal mote de sua campanha ao Planalto. O governador de Goiás usará a segurança como principal vitrine para seu nome, e o clima sentido em Salvador, corrobora que ele pode estar no caminho certo. Ao discursar para o auditório lotado do Centro de Convenções – sem contar as centenas que assistiam ao evento em um telão posicionado na parte externa, Caiado inflamou os presentes ao tocar no assunto. “Quando eu falo de segurança pública, não é porque é um segmento da responsabilidade do governador. Eu falo com o que eu sei, que no Estado Democrático de Direito, quando se tem segurança pública, se tem gestão plena”.

“Quando assumi o governo, Goiás era a Disneylândia dos bandidos. Roubava-se pra todo lado. Ninguém tinha paz. As facções tomavam conta […]. Mas eu disse na frente das minhas topas. Na posse do governador do Estado: Ou o bandido muda de profissão, ou muda de estado”.

O combate à criminalidade, fator cujos números Caiado se orgulha em destacar, é, hoje, a principal preocupação da população brasileira. É o que mostra a pesquisa Genial/Quaest divulgada no último dia 2 de abril. Os expressivos índices de criminalidade no país levaram 29% dos entrevistados no levantamento a apontar a questão como o maior problema enfrentado atualmente. Um aumento, se comparado à pesquisa anterior, quando 26% citaram a violência como principal preocupação.

Beneficiado pela vantagem da dianteira nas articulações e nos trabalhos de pré-campanha – vantagem essa adquirida pela autonomia política -, com postura guiada pela ponderação e com números positivos na segurança pública reluzindo como neon em sua gestão, Caiado se coloca, hoje, como um dos candidatos – senão o – mais competitivos para fazer frente a Lula em 2026. O jogo para o ano que vem já começou, e enquanto outros postulantes assistem à banda passar, Caiado parece já conduzi-la.  

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