Uma verdade pouco considerada é a de serem os animais, racionais ou não, motivados por prêmios e castigos. As reações sempre são correspondentes às ações. Tanto isso é verdade que com muita frequência temos na vida pessoal, empresarial e governamental decisões, cujos resultados não foram os esperados por não levarem em conta as reações.
Os governos, em especial, se excedem no número de erros que cometem. Como não os pagam com dinheiro do próprio bolso e não se submetem às leis, adotam políticas as mais desastradas.
São os burocratas que, baseando-se em dados históricos, ignoram que as pessoas reagem aos incentivos de qualquer espécie. Subestimam os efeitos dos reforços negativos e positivos, que alteram os dados base da decisão.
O poeta britânico Lord Byron, segundo consta, aconselhava sabiamente: “Não trate as pessoas como elas são, mas como gostaria que elas fossem”. Conhecedor da alma humana, o bardo sabia que um incentivo positivo fala muito forte, pois somos influenciados pela opinião dos outros.
A burocracia, que ignora a natureza humana, faz exatamente o contrário. Somos tratados como corruptos e incivilizados, usando como instrumento para conseguir os seus objetivos, não a persuasão, mas a punição por meio de regulamentos e impostos. E os bandidos como vítimas.
Surpreendem-se os latinos ver na Escandinávia e mesmo nos países anglo-saxônicos bancas de frutas e jornais sem vendedores. O cliente se serve e faz o troco. O respeito à civilidade é absoluto. As pessoas fazem questão de merecer a confiança nelas depositadas.
O que acontece é que as decisões, particulares e públicas, miram no que veem e acertam quase sempre no que não veem. Como no caso presente de um banco, que, usando e abusando de uma política de inspiração bem-intencionada das autoridades monetárias, está tumultuando o mercado.
Entenda o que está acontecendo: jogada de master?
Inspirado no New Deal, plano de recuperação do crack de 1929, do presidente ameri Roosevelt, em que a perda da confiança dos créditos bancários provocou a quebra de muitos bancos, o Brasil criou o Fundo Garantidor de Créditos ( FGC ).
Os recursos do FGC eram coletados de todo o sistema bancário para garantir até R$ 250 mil reais de cada depositante. A intenção era louvável: evitar uma corrida bancária.
A ideia funcionou até que um banco ousado desvirtuou a ideia colocando no mercado um volume equivalente a mais de 40% dos recursos do FGC para aplicações de alto risco. Com a garantia existente, o mercado absorveu a extravagante oferta de papeis.
Os recursos captados foram aplicados em títulos de liquidez incerta. Fundamentalmente precatórias do governo, cujo histórico não inspira confiança.
Certamente o banco em questão, conta, como especula o mercado, com participação de políticos para conseguir o resgate deste débito governamental. Talvez ou não, no final do ano passado o governo antecipou o resgate de um lote de precatórias. O que repercutiu muito mal, pois tradicionalmente o governo é mau pagador.
As precatórias são muito desvalorizadas e certamente foram compradas a preço vil. Se resgatadas proporcionariam um lucro fantástico. O prêmio alto seria compatível com o elevado risco. O que não aconteceu, algo fugiu ao controle, levando o banco a sair do mercado.
Esse é um exemplo de uma boa intenção (um fundo para dar tranquilidade ao sistema financeiro) cujos resultados não foram os esperados. E a causa está na razão de que as pessoas reagem de forma imprevisto aos incentivos.
Se esta é a realidade, se as pessoas reagem aos incentivos, o que esperar de um Brasil que pune o sucesso com impostos e o fracasso com auxílios?
A resposta é óbvia: o desestímulo ao trabalho, ao estudo, ao investimento; e o incentivo à ociosidade, à ignorância e ao desperdício.
Onde o mérito não é reconhecido, floresce a mediocridade.
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