Livro de Candice Millard conta a aventura para se descobrir a nascente do Rio Nilo no século 19

Franceses e ingleses disputaram o Egito, entre o fim do século 18 e o século 19, com estardalhaço.

Napoleão Bonaparte levou ao Egito eruditos e acadêmicos, conhecidos como sábios, em 1798. O objetivo era pilhar tudo o que era considerado importante dos africanos.

No livro “Rio dos Deuses — Coragem, Traição e Genialidade na Busca pela Nascente do Nilo” (Companhia das Letras, 352 páginas, tradução de Pedro Maia Soares) — a ser lançado na primeira semana de junho deste ano —, a jornalista e escritora americana Candice Millard, de 58 anos, conta várias histórias (sobre as quais li trechos no site da Livraria Casa del Libro, da Espanha).

Uma vez no Egito, os sábios de Napoleão, relata Candice Millard, “mediram o tamanho da cabeça da Grande Esfinge, traçaram mapas do Cairo, parcelaram as terras de cultivo”. A respeito do que não puderam levar colheram informações.

Os sábios eram botânicos, engenheiros, artistas, músicos, linguistas e geólogos. Numa carta que enviou para sua família, um deles escreveu: “No ardente centro da razão”.

Os franceses se apropriaram da Pedra de Rosetta, “o melhor símbolo para representar o poder militar e intelectual”. De acordo com a Wikipédia, “a pedra a Pedra de Rosetta tem 112,3 centímetros de altura em seu ponto mais alto, 75,7 centímetros de largura e 28,4 centímetros de espessura, e pesa aproximadamente 760 quilos”. (Rosetta era uma cidade do Egito.)

John Speke, Sidi Mubarak Bombay e Richard Burton: exploradores do Rio Nilo | Foto: Reprodução

Na Pedra de Roseta está gravado um decreto, de 2 mil anos de antiguidade, em três idiomas diferentes — demótico, hieroglíficos e grego. Trata-se de um documento plurilíngue. Os europeus não sabiam como ler o demótico e decifrar os hieroglíficos. Só o grego era conhecido.

Antes a pressão dos ingleses, os franceses procuraram esconder a Pedra de Rosetta. O oficial britânico William Richard Hamilton, formado em Letras Clássicas em Cambridge, acabou por descobri-la e a pedra foi levada para o Museu Britânico.

Vinte anos depois, o francês Jean-François Champollion decifrou os hieroglíficos. William Hamilton publicou sua própria tradução do grego.

Pesquisadores da Real Sociedade Geográfica, de Londres, começaram a se espalhar pelo Oriente Médio, em busca de novos mistérios. Encantada com a Pedra de Rosetta, a Europa se tornou obcecada pelo Egito, pela cultura do Oriente.

A busca pela nascente do Rio Nilo

O impressionante Rio Nilo — por sinal, menor do que o Rio Amazonas (6992,06 contra 6852,15 quilômetros de extensão) — despertou o interesse dos cientistas e aventureiros europeus. Onde ficava a nascente do portentoso “mar” de águas? Era o que todo mundo queria saber, mesmo que, em tese, não houvesse tanta importância assim. Na época, guardadas as proporções, era como procurar saber se em Marte há seres vivos.

O relato de Candice Millard: “No lugar de abrir caminho rio acima, o que implicava discernir qual dos milhares de afluentes levava à verdadeira nascente do Nilo, os exploradores centraram sua atenção num plano alternativo: chegar por mar até a costa oriental da África, muito abaixo do Equador, e ir marchando terra adentro com a esperança de encontrar a bacia inicial na qual a corrente começava a avançar até o norte, traçando uma rota de 6 mil quilômetros através das terras do Egito”.

Richard Francis Burton e John Hanning Speke foram enviados pela Real Sociedade Geográfica com o objetivo de encontrar a nascente do Rio Nilo.

Candice Millard: notável pesquisadora americana | Foto: Facebook

Competidores ferozes, Burton e Speke se criticavam com veemência. Speke sustentou que havia encontrado a nascente do Rio Nilo num grande lago que nominou de Victoria. Tudo indica que Speke se suicidou, aos 37 anos.

A história por vezes esquece a figura extraordinária de Sidi Mubarak Bombay. Candice Millard conta que, com seu conhecimento, destreza linguística e valentia, se tornou um guia valioso.

Os soldados Burton e Speke só conseguiram avançar, no território egípcio, graças a engenhosidade de Sidi Mubarak Bombay. A descoberta da nascente do Nilo se deve muito ao explorador e a outros africanos. Como é “natural” (confira as aspas), os brancos — europeus — levaram a fama.

O jornal “Washington Post” escolheu o livro de Candice Millard como um dos melhores de 2022.

Candice Millard, do Kansas, é jornalista e mestre em literatura pela Universidade Baylor. Ela foi redatora e editora da revista “National Geographic”. Escreveu “O Rio da Dúvida — A Sombria Viagem de Theodore Roosevelt e Rondon pela Amazônia”, publicado no Brasil pela Editora Companhia das Letras.

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