Cartas da China de Xi Jinping são melhores do que as de Trump… e o perigo nuclear

Os Estados Unidos que o presidente Donald Trump herdou enfrentam dois desafios: déficit fiscal insustentável (1 trilhão de dólares/ano) e outro tanto na balança comercial. Segundo Elon Musk, o país caminhava para a falência, pois estes duplos déficits são insustentáveis.

Uma metáfora que devemos ter presente é de ser a vida como as águas de um rio que, ao rolar, provocam contínuas mudanças (o grego Heráclito já nos lembrava disso há centenas de anos). A cada espaço à frente tudo pode mudar. Nada é permanente. Assim é a vida. A cada dia, curvas e encruzilhadas mudam o curso da história colocando-nos diante de circunstâncias muitas vezes imprevisíveis.

É nos momentos críticos da nossa vida que devemos lembrar de que as coisas ruins como também as boas podem mudar. Se nos momentos difíceis esta ideia nos traz esperanças; nos favoráveis, prudência. As nossas reações correm o risco de serem extremadas, pois elas são exacerbadas diante de mudanças radicais podendo nos levar a decisões equivocadas.

Ainda que indesejáveis, terremotos acontecem.  Não só os de natureza geológica, mas de muitas outras causas. Um destes, presente em nossos dias, é o provocado pela ação intempestiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Sem mais essa e nem aquela, o líder republicano, com a sua obsessão por tarifas, colocou o mundo de ponta-cabeça.

Os desdobramentos da sua declarada guerra contra o mundo ainda são imprevisíveis. Muitas empresas americanas, principalmente as pequenas e médias, dedicadas à importação da China — que são inúmeras — poderão fechar; muitos empregos serão perdidos, matando sonhos de muitas pessoas. E as relações geopolíticas nunca mais serão iguais.

Certamente, como em outras ações desastradas na história, como as aventuras de outros megalomaníacos como Stálin, Hitler, Mao Tsé-tung, causaram muito mal, mas foram superadas pela extraordinária capacidade humana de adaptação. As sociedades que melhor reagem aos “terremotos” são as baseadas em maior liberdade, que facilitam mudanças comportamentais por serem mais flexíveis.

Entenda quais são os desafios americanos

Trump chegou ao governo da mais poderosa nação do mundo com poderes nunca antes obtidos por um presidente americano, nem mesmo Franklin Roosevelt, que governou por quatro vezes consecutivas. Elegeu-se presidente com maioria no Senado, na Câmara e na Suprema Corte, o que, a par da sua megalomania, está levando-o à uma postura imperial/ditatorial.

Elon Musk, o Kissinger das big techs, e Donald Trump, o moderno imperialista | Foto: Reprodução

Entretanto, por não saber ou não querer assumir, blefa como jogador agressivo de poker, exibindo um poder que não mais corresponde à perdida hegemonia americana. Atualmente existe um contendor, a China, que está determinado a pagar para ver as cartas.

As cartas da China são boas. Ela é uma potência econômica: em 2025 tinha em reservas 3,2 trilhões de dólares dos quais 762 bilhões de treasures do tesouro americano; exporta 20% do seu PIB, sendo só 2,8 % para os Estados Unidos; domina tecnologia de ponta… É um poder econômico respeitável.

Ademais têm um poderio militar considerável e uma liderança política que não depende da opinião pública, não tem eleições populares para influenciar as suas decisões. É uma ditadura com poder para enfrentar desafios externos sem constrangimentos internos.

Na nova configuração geopolítica, a China está se tornando herdeira das vítimas de Trump. A brutalidade cria ressentimentos e abala a credibilidade.

A impertinência de Trump, determinando ditatorialmente a China a revogar a equiparação das suas tarifas às americanas, não condiz com a conduta de quem alardeia ser um bom negociador. O resultado foi o esperado — péssimo.

A nação que Trump herdou enfrenta dois desafios: déficit fiscal insustentável (1 trilhão de dólares/ano) e outro tanto na balança comercial. Segundo Elon Musk, o país caminhava para a falência, pois estes duplos déficits são insustentáveis.

Se o desafio é inegável e estava a exigir uma correção. A guerra comercial mundial, tributando abusivamente as importações e vilipendiando os parceiros comerciais, foi uma opção que mais parece a metáfora do sujeito que, ao jogar fora a água suja do banho, lança fora também a criança.

Trump não sabe, mas protecionismo não funciona

A decisão é equivocada, pois não ataca a causa real do déficit nas transações internacionais. Não será com protecionismo, ideia testada inúmeras vezes por adeptos do mercantilismo, que nunca deu bons resultados.  

Ao contrário, foi a globalização, propiciando aumento das trocas internacionais, que colocou os Estados Unidos como potência econômica.

O segundo desafio, o déficit orçamentário e a insuportável dívida do tesouro, Trump está enfrentando colocando nas mãos de Elon Musk a operação Doge (departament of government eficiency) para eliminar 1 trilhão de dólares/ano de dispêndio do Tesouro, equivalentes ao déficit corrente.

Uma ação que tem se mostrado necessária, pois é a redução dos gastos públicos, um governo mínimo, que fará a nação americana superar os seus dois desafios e não as bravatas do Trump.

O pior que pode acontecer: rearmamento nuclear

Ao abandonar a liderança da ordem mundial, compreensivelmente pelo esgotamento do tesouro, Trump deverá desencadear um movimento de rearmamento nuclear.

O mundo está ficando mais perigoso. Movimentos de anexações de territórios como Taiwan pela China; Ucrânia pela Rússia; Gaza por Israel; e as ameaças à Groenlândia, Canadá e Panamá devem preocupar os responsáveis pela soberania destes países.

Como também não será despropositado o Brasil ver uma ameaça à Amazônia.

As perspectivas hoje são preocupantes. Mas como as águas de um rio a cada curva e encruzilhada elas mudam o seu curso.

Como os Estados Unidos é uma democracia, com instituições que funcionam, em 18 meses os eleitores americanos vão eleger os seus legisladores. Espera-se que o check and balance funcione e ocorra uma redução no poder de Trump.

Qualquer governo com poder absoluto é indesejável. Como ensinou Maquiavel: “Ao dar poder a um homem é que se descobre o seu caráter” (V. S. Naipaul vaticinou. Em “Os Mímicos”: “Só o poder revela o político”.  Trump, com poder, mostrou ser brutal e imprudente.

 Com isso as águas do rio tornarão a rolar no seu leito natural.

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