Demonizar o produtor rural é um erro

Um estudo recentemente publicado na revista científica Advances in Agronomy, assinado por renomados pesquisadores, confirma o que muitos que vivem no campo já sabem há décadas: o produtor rural brasileiro é protagonista de uma revolução silenciosa que alia produtividade, conservação do solo e sustentabilidade ambiental. O SPD é uma inovação que surgiu da necessidade prática de lidar com os desafios da erosão e da baixa produtividade, e foi aperfeiçoada com apoio da ciência, da indústria e da experiência prática de agricultores visionários.

Em um cenário onde o agronegócio brasileiro é frequentemente alvo de críticas — muitas vezes generalistas e imprecisas — é necessário olhar com mais cuidado para as transformações positivas que vêm do próprio campo. Entre elas, o Sistema Plantio Direto (SPD) se destaca como um dos maiores legados da agricultura nacional para o mundo: uma tecnologia nascida da prática e da necessidade, que alia produtividade, sustentabilidade e respeito ao solo.

É no mínimo injusto pintar o produtor rural brasileiro como vilão das questões ambientais. Especialmente quando esse mesmo produtor foi o responsável por desenvolver e implementar, sem imposições estatais ou grandes incentivos, um dos sistemas mais eficazes de conservação do solo da atualidade. O SPD não é apenas uma técnica agrícola; é uma filosofia que entende a terra como um bem vivo, que precisa ser protegido, respeitado e regenerado.

O SPD se baseia em três pilares fundamentais: não revolvimento do solo, manutenção da cobertura vegetal e rotação de culturas. Ao manter os restos vegetais sobre a terra, evita-se a erosão, melhora-se a estrutura do solo e contribui-se para o sequestro de carbono. O resultado? Menos uso de máquinas, menor emissão de poluentes, mais fertilidade natural e maior resiliência dos sistemas produtivos.

Enquanto em muitos países a agricultura sustentável foi imposta de cima para baixo, no Brasil ela literalmente brotou do chão. Foi o produtor quem inovou, testou, arriscou e adaptou. Como é o caso de Flávio Faedo, pioneiro no uso do SPD em Goiás. Inspirado por experiências no Sul do país, Faedo enfrentou ceticismo e resistências, mas insistiu no novo modelo. E provou estar certo: seus resultados mostraram que o SPD era não só viável no cerrado goiano, mas essencial para reduzir custos, preservar o solo e manter a produção durante períodos de crise.

Segundo Faedo, a diferença entre o modelo convencional e o direto é clara: “No convencional os custos são maiores, o custo de produção é enorme, precisa-se de mais máquinas, polui mais, provoca muitas erosões no solo.” O plantio direto, além de preservar o solo, foi essencial para reduzir custos em um período de crise no setor agrícola.

Hoje, o SPD cobre mais de 56 milhões de hectares entre lavouras e sistemas integrados. Trata-se de uma revolução silenciosa, mas com impactos gigantescos: conservação da biodiversidade, melhoria da produtividade, sustentabilidade econômica e contribuição concreta para a mitigação das mudanças climáticas.

É evidente que o setor agropecuário tem seus problemas, e práticas nocivas como o desmatamento ilegal precisam ser combatidas com firmeza. Mas generalizar, criminalizar o agro e ignorar as boas práticas é um desserviço ao debate público. Não reconhecer o mérito de quem adota o SPD é fechar os olhos para um modelo de agricultura que o mundo começa a enxergar como referência.

Chegou a hora de abandonar os discursos reducionistas e reconhecer que o produtor rural que planta com consciência, colhe com responsabilidade e cuida do solo é parte essencial da solução — não do problema. O Brasil tem, no Sistema Plantio Direto, um exemplo de liderança mundial em agricultura sustentável. Cabe a nós valorizá-lo, protegê-lo e, acima de tudo, aprender com ele.

COP 30

O Brasil sediará pela primeira vez na história a COP 30, em Belém do Pará, de 10 a 21 de novembro deste ano. Na ocasião, os países-membros associados se reunirão durante o evento, por um período de duas semanas, para avaliar a situação das mudanças climáticas no planeta.

Essa seria uma grande oportunidade para o governo brasileiro se reconciliar com o agronegócio nacional e valorizar o produtor rural, que tanto contribui para a alimentação mundial — especialmente em um governo que tanto discursa sobre segurança alimentar.

O fato é que o agronegócio, responsável por mais de 25% do PIB brasileiro e por quase metade das exportações nacionais, segue órfão de políticas públicas eficientes. O governo prefere o silêncio ao diálogo, medidas paliativas à solução real, e ignora os alertas de quem está no campo, produzindo sob riscos cada vez maiores.

Nesse sentido, o governo tem demonstrado grande despreparo quando o assunto é meio ambiente — especialmente no que diz respeito ao produtor rural. Em vez de demonizar quem está no campo, por que não apresentar aos países presentes o que o nosso agronegócio tem feito para melhorar o meio ambiente e produzir de forma sustentável, como é o caso do Sistema de Plantio Direto? Isso não é uma questão de esquerda ou direita, mas de reconhecer aquilo que é bom para todos.

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