O levantamento que consta no relatório Conflitos no Campo Brasil 2024, publicado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), aponta o crescimento da contaminação por agrotóxicos no país. Em 2024, foram registradas 276 ocorrência de contaminações do tipo no Brasil, um aumento de 762% em relação a 2023 (32 casos).
A maioria dos casos ocorreu no Maranhão, afetando principalmente comunidades tradicionais sujeitas à pulverização aérea de defensivos agrícolas. Apenas no primeiro semestre do ano passado foram registrados 182 casos, um aumento de mais de 850% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Ao Jornal Opção, Ludimila Carvalho dos Santos, da regional da CPT do Araguaia/Tocantins explicou a metodologia do estudo. “O relatório é feito através de um centro de documentação do Brasil em registro de conflitos relacionados a terra. Seja em relação ao trabalho escravo, conflitos por água etc. Esse levantamento são feitos nas bases, ou seja, na convivência de comunidades. A Pastoral da Terra está presente em todo o Brasil e faz esse levantamento”, diz.
“O alcance desses dados é feito por quem está na ponta. Por exemplo, no Tocantins, são acompanhadas 23 comunidades e territórios, alcançando sindicatos, MST e etc. Fazemos o registro através de boletins de ocorrência e convivência dentro de comunidades, fazendo o acompanhamento da questão organizativa, produtiva e jurídica”, continua.
Segundo Ludmila, o principal fator que contribuiu para o aumento das ocorrências foi a expansão do agronegócio que, segundo ela, faz o uso muitas vezes indiscriminado de agrotóxicos e acaba pulverizando sobre comunidades, rios e pessoas.
“Quando avaliamos o impacto temos que olhar para rios, culturas e pessoas. Com a contaminação temos rios desaparecendo, a terra fica improdutiva e causa a extinção de animais importantes para a flora. Os agrotóxicos matam animais importantes para o equilíbrio do ecossistema e nos faz ficar preocupados não só com o futuro de determinada comunidade, mas o futuro do planeta”, afirmou.
Ludmila explica que em comunidades o impacto acaba sendo mais significativo, já que muitas delas são dependentes de plantações e, com a pulverização em massa, acaba se tornando mais difícil cultivar, inclusive causando o desaparecimento de culturas importantes. Ao citar um exemplo, a membro da Pastoral da Terra afirmou que algumas comunidades do Tocantins não podem mais cultivar abóboras, devido a pestes que deixam as grandes fazendas e acabam indo para comunidades tradicionais.
“A contaminação ameaça diretamente os modos de vida tradicional, camponês, indígena, de permanência da família no território, porque sem a água, sem o rio, que é mãe, que é pai, sem a terra, que é uma questão central na vida dos camponeses, na vida das comunidades, não tem como sobreviver ali. Tem o modo de produção tradicional, agroecológico, pois o uso do agrotóxico impede que isso seja continuado, que isso seja feito nas comunidades”, diz.
Para resolver o problema, a CPT trabalha com o avanço em espaços políticos em busca de soluções, fazendo campanhas como, por exemplo, a de Defesa do Cerrado que luta contra o uso de agrotóxicos. Os espaço propõe questões para modificar políticas públicas e, com isso, diminiur o impacto do uso indiscriminado de agrotóxicos.
Goiás
Em Goiás, a fiscalização do uso de agrotóxicos é feito pela Agrodefesa, um órgão regulador do Estado, que informou em nota que é necessário fazer as denúncias através de canais oficiais, como a Ouvidoria Pública do Estado. O procedimento padrão é a denúncia é encaminhada diretamente para os profissionais que atuam na sede da agência.
A nota ainda esclarece que é competência da Agrodefesa verificar denúncias de mortalidade de abelhas, peixes, por exemplo, e de deriva, ou seja, influência de agrotóxicos de um vizinho de propriedade rural para outro vizinho. E finaliza dizendo que se a intoxicação for humana a ocorrência e apuração de culpados fica por conta da Secretaria de Estado da Saúde.
A agência ainda informou que todo o agrotóxico registrado no Brasil teve analise criteriosa do Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Saúde, e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e que são feitos relatório periódicos e pesquisas apresentando possíveis danos ambientais.
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