O filme Manas , recém-lançado nos cinemas, traz à tona uma realidade alarmante vívida para crianças e adolescentes na Ilha de Marajó, no Pará. A trama gira em torno de Tielle, uma menina de 13 anos vítima de abusos sexuais, inspirada em histórias reais que expõem o ciclo de exploração sexual infantil na região.
Entre 2019 e 2022, mais de 14 mil bebês nasceram de mães com até 19 anos na Ilha de Marajó, número que representa cerca de 25% da natalidade local. No mesmo período, foram registrados 550 processos relacionados a crimes sexuais contra crianças, o equivalente a uma mídia de 1,5 casos por dia, segundo o Ministério Público do Pará.
Com direção de Vânia Lima, Manas é protagonizado por Dira Paes, que interpreta a policial Aretha, personagem inspirada no delegado Rodrigo Amorim e na irmã Marie Henriqueta Cavalcante. Ambos atuam há anos na linha de frente do combate à exploração sexual infantil na região.
A Ilha de Marajó reúne 17 municípios e mais de meio milhão de habitantes. A precariedade dos serviços públicos, associada ao difícil acesso geográfico, contribui para a perpetuação dos crimes. Muitos deles ocorrem em áreas isoladas, como as balsas do Rio Jaburu, onde as comunidades trocam questões essenciais por favores sexuais, entre eles, inclusive, crianças.
Segundo Henrique irmã, uma das maiores dificuldades enfrentadas é a falta de estrutura para atendimento às vítimas. “Quando uma criança é violentada em uma região longa, ela precisa viajar horas — ou dias — para ter acesso a um exame pericial. Isso quando há transporte. Muitas vezes, a prova do crime é perdida nesse trajeto”, afirma.
Em entrevista ao ICL Notícias, a religiosa fez um apelo direto às autoridades: “Queremos que esse filme provoque uma ocorrência concreta. Que o poder público olhe para Marajó, principalmente para nossas infâncias, e que isso não seja apenas mais uma história contada.”
Ela reforça que a transformação só será possível com a criação de políticas públicas eficazes. “Nossas crianças e adolescentes não devem ser reconhecidos apenas pela dor, mas pelo potencial de transformação que carregam. Manas precisa ser um ponto de virada.”
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