Bolsonarismo precisa de um não bolsonarista para ganhar de Lula da Silva

Por que Jair Bolsonaro, do PL, perdeu para Lula da Silva, do PT, a Presidência da República em 2022, há pouco mais de dois anos?

Antes de apresentar uma resposta, por sinal especulativa, falemos de números. Lula da Silva obteve 2,1 milhões de votos a mais do que Bolsonaro. Ficou com 50,90% e o rival com 49,10%. Uma diferença de 1,80%.

Jair Bolsonaro saltou de 43,20%, no primeiro turno, para 49,10%, no segundo turno. Um crescimento de 5,9 pontos percentuais. Lula da Silva passou de 48,43% para 50,90%, um crescimento de 2,47 pontos percentuais.

Noutras palavras, Jair Bolsonaro avançou mais, no segundo turno, do que Lula da Silva. Ainda assim, perdeu.

Porque Lula da Silva havia articulado uma aliança ampla desde o primeiro turno, chegando ao segundo com maior expectativa de poder.

 Como quase todos os líderes populistas, que estabelecem ligação direta com seu eleitorado, Jair Bolsonaro não operou, de maneira flexível e abrangente, para ampliar seu eleitorado no primeiro turno. Agiu como se não precisasse de novos aliados. Não soube cultivá-los.

Na política uma coisa é receber apoio desmotivado e outra é conquistar apoio motivado. Em 2022, Jair Bolsonaro recebeu o apoio das direitas, notadamente no segundo turno, mas, por certo, setores de centro, que nem eram favoráveis a Lula da Silva, não o apoiaram de maneira ampla. Por causa do radicalismo do discurso e, às vezes, da prática.

Lula tem controle da máquina e bolsonarismo não tem

Frise-se que, em 2022, Jair Bolsonaro contava com a máquina, que pode fazer a diferença — e certamente fez, daí sua boa votação —, mas em 2026, daqui a um ano e quatro meses, Lula da Silva será o “dono” da máquina.

Há quem avalie que Lula da Silva está mal, do ponto de vista político-eleitoral, dadas as pesquisas. A rigor, as pesquisas não mostram exatamente isto. Elas indicam que o petista-chefe está no jogo, ainda forte, e por isso com chance de ser reeleito. Quem diz o contrário não tem examinado as pesquisas com a devida atenção.

Há o detalhe de que, no momento, Lula da Silva, que nunca se entrega, está operando para conquistar setores políticos de centro e, até, da direita para seu projeto eleitoral de 2026. Se o governo melhorar, se os índices do petista subirem nas pesquisas de intenção de voto, suas chances crescem, inclusive de absorver apoio dos hesitantes.

Expert em política, Lula da Silva sabe que está disputando cerca de 10% dos votos ditos “flutuantes”, os mesmos que, em 2022, disputou com Jair Bolsonaro.

Então, pode-se dizer que o quadro de 2026 está inteiramente aberto. Mas é praticamente certo que a disputa se dará entre um bolsonarista — ainda não se quem — e um petista, ou seja, Lula da Silva.

Mas o bolsonarismo pode repetir o mesmo erro de 2022, quando avaliou que se bastava para eleger Jair Bolsonaro e derrotar uma raposa política como Lula da Silva? É provável.

A direita bolsonarista e a direita não bolsonarista

A tendência é que um candidato apoiado pelo bolsonarismo seja o grande rival de Lula da Silva?

Talvez seja o caso de sugerir que o bolsonarismo tem mais chance de eleger um candidato a presidente não bolsonarista, porém de direita, do que um candidato bolsonarista a presidente.

Eduardo Bolsonaro e Michelle Bolsonaro — filho e mulher de Jair Bolsonaro, respectivamente — são, por causa do líder máximo da direita, fortes. Porém, terão a resistência de vários setores da sociedade, inclusive de empresários e de políticos do centro. Porque, se querem a direita no poder, podem não querer o bolsonarismo mandando pela segunda vez e, dadas suas posições ideológicas, conturbando a economia.

Homens e mulheres do mercado sabem que nos tratos comerciais internacionais as ideologias não valem nada — se valessem os produtores rurais brasileiros, em geral de direita, não negociariam com a China comunista, o maior comprador de produtos do país.

Na questão do mercado, Lula da Silva é muito mais pragmático do que Jair Bolsonaro e seu grupo político. Por isso, parte do mercado irá com o petista-chefe e não com o grupo do chefão do PL. Claro, parte substancial o acompanhará, inclusive por razões ideológicas.

A pergunta chave é: o bolsonarismo — leia-se Jair Bolsonaro — poderá apoiar um candidato não bolsonarista da direita? O pragmatismo sugere que sim. O mundo da fantasia de alguns sugerem que não.

Se quer arrancar a esquerda do poder, ganhando como prêmio a anistia política — que poderá permitir que seja candidato em 2030 —, Jair Bolsonaro terá de pensar, em termos de candidato a presidente, para além da cozinha de sua casa, quer dizer, de sua família.

Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado: saída realista

Vejamos, a partir de agora, quatro políticos de direita que podem disputar com Lula da Silva e com chance de vencê-lo.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é bolsonarista? Parece, mas, a rigor, não é. Ele opera em outra vibe, e não é a bolsonarista. Mas, de todos os pré-candidatos da direita, é, de fato, o mais próximo de Jair Bolsonaro. Não do bolsonarismo.

Tarcísio de Freitas é uma cria mais do governo Bolsonaro do que de Jair Bolsonaro. Na gestão anterior, enquanto o líder do PL fazia discurso ideológico, como adepto das guerras culturais de Steve Bannon, o jovem engenheiro operava na melhoria da infraestrutura do país.

Candidato a governador de São Paulo foi eleito graças ao empenho do bolsonarismo, mas não só. Sua moderação e a imagem de “homem da infraestrutura” — a mesma dos tucanos paulistas — conquistaram a sociedade do Estado. Tornou-se o queridinho do mercado e exatamente por não ter formatado para si a imagem de bolsonarista.

Entretanto, para ser candidato a presidente, um político precisa ter vontade. Tarcísio de Freitas prefere ser candidato à reeleição. Porém, se candidato a presidente, será um dos mais fortes. Por ter o apoio do bolsonarismo e, ao mesmo tempo, não ser bolsonarista (pelo menos não é visto assim pela sociedade).

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, dada sua ampla história política, de personalidade independente, não é bolsonarista (o termo não o absorve nem o explica). Porém, dada a circunstância político-eleitoral, precisa do bolsonarismo para ser eleito presidente.

O mercado respeita Ronaldo Caiado por vários motivos, e não exatamente porque é de direita, e sim, sobretudo, porque oferece segurança jurídica para os negócios e, também, porque resolveu, em pouco mais de seis anos, a questão da segurança pública em Goiás.

O mercado percebe Ronaldo Caiado como um agente realista pró-crescimento da economia. O bolsonarismo é visto, por vezes, como um entrave, dadas suas posições ideológicas, que, postas em prática, prejudicam as relações com alguns países, como China e Rússia.

A sociedade brasileira, que o está conhecendo aos poucos, valoriza Ronaldo Caiado por causa do combate sistemático ao crime organizado e à corrupção. É visto, assim, como um político que, eleito presidente, pode recuperar a economia e a imagem do país.

Só que, repetindo, Ronaldo Caiado precisa do apoio do bolsonarismo para disputar, de igual para igual, com o peso-pesado Lula da Silva.

Jair Bolsonaro tem simpatia pelo governador goiano. Por isso há a possibilidade de uma chapa com Ronaldo Caiado para presidente e um bolsonarista-raiz — tipo Michelle Bolsonaro ou Eduardo Bolsonaro — na vice.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do partido Novo, não é bolsonarista. Seu nome está colocado para a presidência. Mas parece que o bolsonarismo não se empolga. Talvez porque seja da direita do mercado, mas não exatamente da direita ideológica. Por isso pode acabar disputando o Senado.

Jair Bolsonaro tem simpatia pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior, do PSD. No entanto, ao visitar o Estado recentemente, disse que é bom para disputar o Senado, na segunda vaga — a primeira será do PL.

Noutras palavras, Jair Bolsonaro rifou Ratinho Júnior. Mas o governador paranaense pode ser vice, por exemplo, de Tarcísio de Freitas ou de Ronaldo Caiado? É possível.

O que se diz nos bastidores do bolsonarismo é o seguinte: 1 — Jair Bolsonaro ainda valia (ou finge acreditar) que será candidato a presidente; 2 — o bolsonarismo poderá apoiar Tarcísio de Freitas (ressalve-se: o bolsonarismo desconfia de que ele será candidato à reeleição) ou Ronaldo Caiado; 3 — o vice de qualquer candidato não bolsonarista apoiado por Jair Bolsonaro será um bolsonarista, como Michelle Bolsonaro ou Eduardo Bolsonaro.

O presidente nacional do pP, Ciro Nogueira, está na parada para vice? Está, mas não é bolsonarista. Na verdade, nem é de direita. É de centro-direita — tanto que já apoiou, no passado recente, tanto Lula da Silva quanto a ex-presidente Dilma Rousseff.

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