Guerra interna incendeia PL em Goiás e enfurece um Bolsonaro já fragilizado

A ‘malhação de Judas’ verificada em uma entrevista do programa Papo Aberto, da TV Capital, na última segunda-feira, 19, já pode ser considerada o ponto mais alto – ou mais baixo, a depender da perspectiva – da briga interna do PL goiano neste ano. Reunidas, algumas das principais lideranças da legenda em Goiânia e em Goiás se juntaram para “linchar” aquele que hoje parece ser seu maior desafeto. De “câncer” a “covarde”, os insultos jorravam como água suja de uma tubulação de esgoto. O alvo, por sua vez, não era o presidente Lula ou algum membro do PT ou de algum outro partido de esquerda, como reza a tradição do roteiro de 99% dos discursos bolsonaristas, mas um membro do próprio PL.

Sentados lado a lado no estúdio do programa, o senador Wilder Morais, presidente do PL em Goiás, o deputado federal Gustavo Gayer, líder do partido em Goiânia, Oséias Varão, vereador da capital e membro do grupo das duas lideranças, mediados pelo vereador de Aparecida de Goiânia e também bolsonarista, Dieyme Vasconcelos, parecem ter dedicado quase todo o programa para explicitar a aversão ao vereador e ex-deputado federal, Vitor Hugo.

Gayer foi o mais contundente. Chamou o colega de partido de “covarde”, disse que sua paciência com ele “acabou” e o acusou de sabotar os planos do PL para 2026. “Um partido não vai pra frente com um câncer interno como esse. Peça para sair”, disparou.

O deputado federal ainda acrescentou: “Eu vou falar a verdade sobre o que você tem feito, a maneira que você tem tentado sabotar o PL, tem tentado sabotar o nosso líder aqui, o senador Wilder Morais”.

Wilder, claro, seguiu a linha. Mais comedido, mas ainda dando seu recado. “A decisão do nosso grupo político: hoje você está sendo bloqueado [em referência ao nome do quadro do programa, ‘Like ou Bloqueia’] é porque você não faz parte do grupo. Você não construiu nada disso para que você tivesse entre nós. Poderia ser um dos convidados nossos. Infelizmente, você não quis participar desse grupo. Quis andar sozinho. Então, é catitu fora do bando.”

Em tempo: o programa de segunda-feira mostrou apenas um desdobramento – talvez o mais acentuado até o momento – de uma rixa já antiga. A rivalidade entre Gayer e Wilder contra Vitor Hugo foi ganhando corpo conforme o vereador de Goiânia foi avançando em sua articulação para aproximar o ex-presidente Jair Bolsonaro de Daniel Vilela e, assim, talvez garantir uma vaga na chapa do emedebista para o Senado Federal em 2026.

Apesar de bolsonarista declarado e amigo pessoal do ex-presidente, Vitor Hugo atua como a voz “moderada” dentro do PL, figurando como ponte estratégica entre a base do governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, e Bolsonaro. A mediação do vereador foi crucial para que Daniel Vilela, pré-candidato do MDB ao governo, conseguisse diálogo direto com Bolsonaro — o que não deixa de ser uma manobra política astuta.

É claro que essa articulação enfurece Gayer e sua turma, que não hesitaram em expor o Major Vitor Hugo ao desgaste público — uma nota de repúdio da cúpula do PL estadual divulgada ano passado, encabeçada por Wilder Morais e Gustavo Gayer, tentou frear o avanço do vereador após sua interferência no encontro entre Daniel Vilela e Bolsonaro.

Bolsonaro, o mandachuva do PL, até tentou pôr panos quentes da briga, dando um sinal aqui e acolá de que tem tanto Gayer quanto Vitor Hugo no radar para bancar para o Senado – isto é, se Gayer não for cassado, ficar inelegível e até ser preso até o final deste ano, situação que o próprio parlamentar não descarta. Porém, o massacre televisionado da última segunda-feira parece ter sido a gota d’água para o ex-presidente da República.

Jair entrou em contato com Vitor Hugo pelo Whastsapp e não escondeu sua chateação com a briga ainda em curso. Ele teria pedido que o vereador não revidasse e contivesse o conflito com Gayer – que, por sua vez, também teria sido contatado pelo ex-presidente, conforme fontes do PL.

Mas o ex-presidente, atolado até o pescoço em problemas judiciais, complicações de saúde e inelegível até segunda ordem (o próprio ex-mandatário já sabe que a situação não deve ser revertida), já sinalizou que não quer carregar nos ombros mais um foco de desgaste — especialmente em um estado onde o partido tem prefeitos a perder de vista.

Sob o comando de Gayer e Wilder, o PL goiano virou uma máquina fumegante e desgovernada, disposta a disparar contra qualquer voz que desafie seus planos – mesmo que esses planos sequer tenham a chancela de Bolsonaro. Enquanto isso, prefeitos do partido, vendo a nuvem de fumaça se adensar, começam a se afastar discretamente da confusão, com a clara percepção de que dali dificilmente sairá algo que preste.

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