A Noite que mudou o pop: um marco na História da Música americana

No vasto panorama da história da música pop, há momentos que transcendem o mero entretenimento, tocam a alma e se perpetuam. O documentário “A Noite que Mudou o Pop”, agora disponível na Netflix, nos leva de volta a uma madrugada lendária de janeiro de 1985, quando 47 dos maiores ícones da música americana se reuniram por uma causa maior.

Este documentário cativante não apenas nos presenteia com performances memoráveis, mas também revela como o improvável encontro entre gigantes como Michael Jackson, Cindy Lauper, Bruce Springsteen e Stevie Wonder transcendeu o mero espetáculo de talentos, tornando-se um símbolo de solidariedade sem precedentes na indústria musical.

Causas humanitárias não eram razão para concertos até então. Poucos meses antes Bob Geldof havia organizado em Londres a Band Aid, uma banda de músicos britânicos com a missão de arrecadar fundos para combater a fome na Etiópia.

O sucesso do show inspirou duas pessoas próximas a Lionel Ritchie, o agente de talentos Ken Kragen e o músico e ativista Harry Belafonte, a fazer o mesmo nos Estados Unidos. Belafonte, que esteve em protestos ao lado de Martin Luther King, explicou na época sua motivação:

“Nós temos brancos ajudando negros, mas não temos negros ajudando negros.”

Lionel Ritchie tomou a frente do projeto de Kragen e o Belafonte. Michael Jackson, amigo de Ritchie desde os tempos da gravadora Motown, foi o primeiro a aderir. Mais do que isso, Jackson assumiu a responsabilidade de compor música enquanto Quincy Jones, que aderiu em seguida, ficou com a produção e os arranjos.

Lionel Ritchie e Michael Jackson | Foto: Reprodução

Os convites foram sendo feitos a todos, um a um. Em tempos pré-smartphone, a comunicação em tempo real era um problema. Como acertar detalhes  e combinar agendas entre tantas celebridades sem grupos de WhatsApp? Reunir essas estrelas em um estúdio,  sem deixar vazar para imprensa,  ao mesmo tempo parecia irrealizável.

Só havia uma data possível, uma única noite para que o projeto fosse possível: a premiação do American Music Awards, quando a nata da música americana estaria reunida em Los Angeles. Lionel Ritchie teve um duplo papel no  evento: foi o apresentador do prêmio e também o principal premiado.

Nos intervalos, porém, sua preocupação era com a organização da gravação. As imagens mostram como aqueles artistas que tinham o mundo aos pés tiveram de deixar o ego fora da sala e contentar-se em cantar uma ou duas frases.

Assim, o cenário para essa reunião épica foi o estúdio A&M, em Los Angeles, logo após a cerimônia do American Music Awards. Sob a liderança de Lionel Richie, Ken Kragen e Harry Belafonte, esse grupo heterogêneo de artistas convergiu em prol de uma causa humanitária, inspirados pelo sucesso anterior do Band Aid de Bob Geldof.

O cerne do projeto foi à gravação da emblemática “We Are the World”, uma canção que não apenas capturou a essência da solidariedade, mas também arrecadou um valor extraordinário de US$ 160 milhões para a  causa.

O processo de gravação, como revelado no documentário, não foi isento de desafios. Porém, sob a orientação de Quincy Jones e com o apelo emocional da iniciativa, os egos foram deixados de lado e a magia aconteceu.

Bob Dylan | Foto: Reprodução

Momentos de tensão surgiram como a aparente inquietação de Bob Dylan em um ambiente predominantemente pop. No entanto, sua disposição em participar simboliza o espírito colaborativo que permeou aquela noite extraordinária.

Em certo momento, eles começam a pedir autógrafos uns aos outros. Naquela madrugada, os “superstars” eram ao mesmo tempo seus pares, seus ídolos, seus fãs.

Mas talvez o momento mais tocante seja o retrato de Diana Ross, chorando silenciosamente no final da gravação, relutante em deixar aquele momento de harmonia e união.

“A Noite que Mudou o Pop” não é apenas um documentário sobre música, é um testemunho da capacidade humana de transcender diferenças em prol de um objetivo maior. Uma celebração da música, do amor e da esperança que ecoa através das décadas, lembrando-nos do poder transformador da arte.

Ouviremos essa gravação emblemática. Observe à emoção e a beleza do resultado final. Eles realmente entregaram o melhor de cada um naquela noite que “mudou o Pop”.

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