As não-tão-novas gestões de Goiânia e Aparecida entram no sexto mês de mandato ainda abarrotadas pela chamada “herança maldita”: dívidas deixadas pelos antecessores. Apesar das promessas de compromisso com esses pagamentos, nenhum dos municípios consegue estipular quando conseguirá quitar os débitos acumulados.
Na capital, o cenário é mais crítico. Com um rombo bilionário que parece crescer a cada dia, o prefeito Sandro Mabel mantém Goiânia sob decreto de calamidade pública desde o início do mandato. Inclusive, um novo pedido de prorrogação foi enviado à Alego (Assembleia Legislativa de Goiás) na primeira semana de maio, mas ainda não foi votado. Pela segunda vez, o Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM) recomendou que a Casa não aceitasse a justificativa da Secretaria Municipal da Fazenda (Sefaz), baseada em prazo insuficiente para resolver o passivo.
A última divulgação oficial apontava R$ 3,5 bilhões em dívidas da capital, afetando principalmente a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), o Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores (Imas) e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). No entanto, a Sefaz informou ao Jornal Opção dois novos precatórios milionários que devem ser pagos até 2026: R$ 480 milhões, por decisão do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), e R$ 260 milhões referentes à Comurg, notificados pela Justiça Federal.
Com os valores ainda não somados ao déficit anterior, a dívida da Prefeitura de Goiânia se aproxima dos R$ 4 bilhões, segundo a própria Sefaz.
Contenção de gastos
A pasta afirma que pouco mais de 10% da dívida inicial — os R$ 3,5 bilhões — foi quitada. Para tentar equilibrar as contas, a Prefeitura criou um Comitê de Controle de Gastos, que analisa o uso de recursos com o objetivo de poupar dinheiro. “Há uma análise criteriosa e multidisciplinar dos gastos. Todas as despesas passam por um processo de qualificação, sendo analisadas criteriosamente e aprovadas, ou não”, afirma a nota enviada.
Em Aparecida de Goiânia, o prefeito Leandro Vilela iniciou o ano com R$ 474 milhões em dívidas. Segundo o secretário de Fazenda, Carlos Eduardo Rodrigues, o valor considera faturas não empenhadas, as empenhadas e liquidadas, as empenhadas e não liquidadas, além do débito com o pessoal. O município também aplicou uma política de contenção de gastos.
“Esse ganho de caixa foi tudo que nós fizemos nesses cinco meses. Foi tudo. Em todos os lugares houve congelamento de contratos, paralisação de atividades não essenciais, corte de pessoal… uma série de contenções de gastos que foram feitas”, disse o secretário.
Mais de 2 mil cargos comissionados foram cortados. “Hoje temos 130 carros parados desde janeiro, na garagem. Não reconduzimos grande parte dos motoristas que dirigiam esses carros e não estamos gastando com combustível ou peças”, exemplificou.
Folha regularizada
O secretário de Aparecida ressalta que não há prazo estipulado para o pagamento total, mas que o foco é quitar as dívidas com servidores e terceirizados. “Enquanto não concluirmos o pagamento dos débitos com o pessoal, não temos caixa para mais nada. Estamos em dia com todas as despesas realizadas no ano de 2025. As despesas em curso serão pagas religiosamente em dia”, afirmou.
Goiânia também garante o pagamento da folha em dia. A Sefaz afirma que a gestão anterior deixou folhas apenas parcialmente pagas: nos meses de outubro, novembro e dezembro, a administração de Rogério Cruz teria quitado apenas os valores líquidos, sem empenhar ou repassar os descontos obrigatórios — como imposto de renda, parcelas de empréstimos consignados, contribuições previdenciárias e sindicais. Essas pendências já foram pagas, segundo a atual gestão, e a folha está hoje regularizada.
A Prefeitura de Aparecida afirma ter quitado os salários de dezembro dos servidores, além de pagamentos aos pequenos credores (priorizados por lei) e fornecedores essenciais — como energia, internet, combustível, gás, decisões judiciais e alguns precatórios.
Carlos Eduardo também destacou pagamentos voltados à manutenção de serviços de saúde e educação, considerados essenciais para a continuidade do atendimento à população. “Na área da educação, há uma série de despesas decorrentes do início do ano letivo. Exemplos disso são roçagem e dedetização das escolas, sem os quais as aulas não podem ocorrer. É uma enormidade de gastos fundamentais, e todos foram saldados”, explicou.
Mesmo assim, ainda há um volume considerável de faturas já medidas e não empenhadas, que seguem em espera até que haja disponibilidade financeira.
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O post No sexto mês de gestão, Goiânia e Aparecida seguem lutando com dívidas herdadas dos antigos prefeitos apareceu primeiro em Jornal Opção.