Como Odorico Paraguassu, Rogério Cruz precisa de um cemitério para inaugurar

Tadeu Alencar Arrais*

Tanta ingratitude… tanto traicionismo…
e essas forças ocultas trabalhando o dia inteiro!
Eu só não renuncio, porque penso no povo.
Odorico Paraguassu, O Bem Amado, p. 13.

Dias Gomes nos ofereceu, por meio da teledramaturgia, o mais icônico retrato dos prefeitos brasileiros. É antológica a obsessão de Odorico Paraguassu pela inauguração de um cemitério na pacata cidade de Sucupira. A história descreve, desesperadamente, as confabulâncias de Odorico para conseguir um morto que justifique, diante da oposição e da opinião pública, a construção do cemitério. Em política, argumenta o coronel Paraguassu, os finalmentes justificam os não-obstantes.

Rogério Cruz precisa, com a urgência semelhante àquela de Odorico Paraguassu, de algo que mobilize os eleitores de Goiânia. Se esquivar do cotidiano caótico de nossa cidade não será tão fácil. Culpar a imprensa marronzista pelas manchetes negativas parece não surtir efeito.  A situação da COMURG (Companhia de Urbanização de Goiânia) expôs, mais uma vez, as vulnerabilidades da gestão de Rogério Cruz. Uma boa gestão da cidade passa, necessariamente, pela valorização dos serviços e dos servidores da COMURG. Estamos dispostos a pagar por uma cidade limpa e que trate os resíduos de maneira adequada. Não estamos dispostos, no entanto, a concordar que esse pagamento, resultado dos impostos, seja desviado para finalidades que nem Dirceu Borboleta conseguiria justificar.

A estratégia de acusar os boatistas que batem língua nas praças e esquinas do centro da cidade, em meio ao lixo acumulado, também não logrará sucesso. Nem mesmo Zeca Diabo conseguiria censurar as imagens e áudios que alimentam as borboletices nos grupos de Whats App. O prefeito não é responsável pelos borboleteamentos e nem pelas borboletices de ninguém, advertiu Odorico, em diálogo com Dorotéia. Rogério Cruz parece seguir o mesmo princípio. Não foi, tão pouco, a esquerda necrofílica a culpada pela falta de colchonetes nos Centros Municipais de Educação Infantil. As fotos de crianças dormindo no chão não saíram da Kodak de Neco Pedreira.

Não há neologismo que salve a gestão de Rogério Cruz. Só existe, supositoriamente, um modo de viabilizar suas ambições sucessórias e desviar-se das traicionices políticas diárias.  Fazer com que todos esqueçam o pratrasmente e, ao mesmo tempo, inventar um novo prafrentemente. Precisa, com a mesma urgência de Odorico Paraguassu, de um cemitério para inaugurar. Como concluiu Dorotéia, ao relatar algumas confabulâncias políticas para Odorico Paraguassu: Se o Senhor fizer isso, coronel, o povo se levanta e obriga o senhor a voltar.

*Tadeu Alencar Arrais é professor titular da UFG
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