E se Lula, em vez de presidente, fosse repórter?

Na sexta-feira, 2, as principais fotografias estampadas em sites e jornais, as principais imagens divulgadas em TVs e redes sociais, as principais reações em podcasts e canais noticiosos eram sobre o mesmo tema: as gargalhadas do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no evento de anúncio do túnel Guarujá–Santos, parceria entre o Executivo federal e o governo de São Paulo.

Antes de tudo, é uma cena perfeita de como se deve dar a boa política: eleições à parte, gestores devem se dar as mãos para o melhor do povo que governam. E foi isso que Tarcísio e Lula fizeram ali. Entretanto, não é política o tema principal deste texto, mas comunicação.

Ainda cintila nas retinas de quem acompanhou de perto as eleições de 2022 o encontro de Lula com Ciro Gomes no primeiro dos debates presidenciais, transmitido pela Band. O então ex-presidente fazia uma pergunta ao eterno candidato mais preparado. Não importa mais qual era o tema, porque quem se lembra da cena vai se recordar mesmo é de como o petista lidou bem ali com o adversário que um dia foi seu aliado. Como resposta, obteve dureza, não sem que antes o pedetista admitisse que estava diante de um grande “encantador de serpentes”.

Longe do mundo das metáforas, o encantador de serpentes é hoje uma profissão sob ameaça, por depender de animais selvagens em um contexto contemporâneo em que eles são bastante protegidos por legislações ambientais. Em suma, ele é um artista capaz de fazer com que cobras obedeçam a seus comandos, especialmente tocando instrumentos musicais, como uma flauta. A Índia, a propósito, é considerada a terra dos encantadores de serpentes.

Quando Ciro se referiu a Lula com essa expressão, na verdade fazia um elogio torto para dizer que estava ali diante de um comunicador de grande capacidade persuasiva. Isso leva a uma conjectura interessante: o que Lula poderia ser, se não fosse político e se não tivesse sido um líder sindicalista?

O dom de saber envolver o interlocutor dá margem para um leque vocacional: vendedor, psicoterapeuta, artista cênico, professor, sacerdote, vendedor e… jornalista.

Vendo a cena em Santos, de como Lula tinha o domínio espacial e temporal das ações, não há como não imaginar como seria o presidente se tivesse encaminhado seus dons para, por exemplo, ser o repórter titular de uma coluna de política (ou qualquer outra área).

Entrar na faculdade de jornalismo, concluir o curso e até atuar em redação é algo possível para a maioria, mas são poucos na profissão que sabem como cultivar uma fonte, como manter um bom relacionamento com assessores estratégicos, como encaminhar um deputado mais “ensaboado” a entregar uma informação que mais ninguém lhe soube extrair.

Quando Lula “pauta” o evento com Tarcísio em Santos, ele já tem para si, na cabeça, todo o roteiro que conduzirá com a finalidade de extrair da “entrevista” o melhor resultado possível para sua “matéria”. Quem consegue perceber então o avesso da metáfora, que é o mundo da política genuína que foi ali praticada, entende como é rica e ampla a persona do presidente.

Antes de ser um grande político, Lula é um imenso comunicador. Porque esse dom natural lhe daria o poder de atuar em múltiplas atividades. Mas foi a vida pública e partidária que seduziu o “encantador de serpentes” de Garanhuns.

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