Art Déco Festival reúne pinturas e palestras em Goiânia; veja programação

Em sua 7ª Edição, o Goiânia Art Déco Festival 2024 trouxe para a capital diversas pinturas que representam o estilo artístico que caracteriza as construções histórias de Goiânia. Desde 2018, o festival e retrata importantes patrimônios históricos e culturais da cidade, como o Grande Hotel, o Teatro Goiânia, o Palácio Pedro Ludovico e outras construções que marcam esse gênero da arquitetura. O evento começou na terça-feira, 14, e vai até sábado, 18, em homenagem aos 100 anos do estilo modernista marcado pelo uso de linhas retas e cores fortes. 

Gutto Lemes, produtor cultural e idealizador do festival, explica ao Jornal Opção que a ideia para realizar o evento surgiu após 15 anos desde seu 1° Projeto “Patrimônio Adormecido Art Déco”, em 2004. “Após esse projeto foram várias exposições, palestras, seminários, passeios guiados no roteiro Art Déco até chegar no atual formato do festival. Busco inspiração na falta de valorização e promoção do acervo Art Déco e o centro pioneiro de Goiânia”, destaca Gutto. O organizador adianta que vai fazer uma mostra em setembro de desenhos do conjunto tombado do Projeto “Patrimônio Adormecido”, que completa 20 anos em 2024 e é o primeiro registro artístico do acervo art déco da capital, .

A programação totalmente gratuita reúne exposições inéditas de pinturas e fotografias, além de palestras sobre a conservação do patrimônio. A mostra de arte acontece no Museu Confaloni, na Estação Ferroviária, com obras de 22 artistas da Associação Goiana de Artes Visuais (AGAV), representando monumentos e prédios Art Déco por meio de diversas técnicas de pintura.

Art Decó é um estilo artístico que surgiu na Europa nos anos 1920 e influenciou diversas áreas, como artes, moda, cinema, arquitetura e design de interiores. Suas características principais incluem o uso de formas geométricas, ornamentos e design abstrato. No Brasil, esse estilo ganhou especial relevância em Goiânia, a primeira capital planejada do país. A arquitetura inicial da cidade foi inteiramente concebida com base nesse estilo artístico, refletindo a elegância e modernidade do Art Decó.

Praça Joaquim Lúcio representada por Pedro Galvão | Foto: Giovanna Campos

“Esse prédio é o antigo fórum e a prefeitura de Campinas. E o que eu fiz aqui? A ideia minha foi que em frente houvesse uma praça. Essa praça é a Praça Joaquim Lúcio. Eu a projetei de forma a preservar a própria natureza do cerrado, onde os galhos tortos contracenam com a arquitetura que apresenta linhas coordenadas, tanto verticais quanto horizontais”, explica Pedro Galvão, presidente da AGAV (Associação Goiana de Artes Visuais).

Os galhos do cerrado têm um caminho incerto, enquanto a arquitetura segue um trajeto definido e projetado. A ideia é imaginar como seria a Praça Joaquim Lúcio, em Campinas, após sua revitalização, preservando o Cerrado e a natureza. A praça abrigaria elementos como o pequi, os ipês, o jatobá e outras vegetações típicas, criando um ambiente onde as pessoas poderiam desfrutar do espaço, com a presença de pipoqueiros e artistas de rua.

“Goiânia está passando por uma transformação, mas o conceito na cabeça das autoridades e da população ainda não chegou a um consenso. Nós precisamos mudar esse conceito de centro de cidade”, avalia Pedro. Ele explica que o centro não é mais apenas um centro administrativo; mas sim um centro histórico, e essa mudança ainda não foi completamente assimilada pela sociedade.

Na visão dele, essa arquitetura artística, que é constante na cidade, poderia ser transformada em um espaço turístico. A proposta é que isso atraia pessoas com ideias inovadoras, convertendo a praça em um conceito de turismo. Esse modelo já foi implementado em outras cidades do país.

Art Déco em Goiânia

A primeira Constituição do Estado de Goiás, de 1891, já previa a transferência da sede do governo, que na época estava na Antiga Vila Boa. A partir da década de 1930, o interventor Pedro Ludovico Teixeira começou a trabalhar para que essa transferência fosse realizada. Em dezembro de 1932, ele criou, por meio de decreto, uma comissão para escolher o local da nova capital, em sintonia com a política “Marcha para o Oeste” do governo Vargas, que buscava promover o desenvolvimento e ocupação do Centro-Oeste.

Em julho de 1933, Pedro Ludovico assinou um decreto encarregando o arquiteto urbanista Attilio Corrêa Lima de elaborar o projeto da nova capital. Attilio, formado engenheiro-arquiteto pela Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no Rio de Janeiro e urbanista pelo Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris (Sorbonne), incorporou grande influência do estilo parisiense em seus projetos, especialmente no de Goiânia.

O projeto da nova capital, marcado pela modernidade e sofisticação, buscava deixar para trás o antigo estilo colonial das cidades mineradoras. Attilio Corrêa Lima encontrou no estilo Art Déco uma forma de expressar o progresso que a nova capital representava para o estado. Os primeiros edifícios, erguidos entre 1940 e 1950 na região central, foram inspirados nesse estilo e hoje fazem parte do conjunto urbano de Goiânia, tombado como Patrimônio Histórico e Cultural em 2003.

No entanto, muitas dessas construções estão atualmente abandonadas e vandalizadas. A arquitetura em estilo Art Déco trouxe para Goiânia a modernidade da época, contrastando com a antiga capital, a cidade de Goiás, que possuía um aspecto colonial. Desde a sua fundação, há mais de oitenta anos, a cidade passou por modificações substanciais em seu cenário urbano. Com a rápida expansão urbana e econômica, o ideal moderno almejado pelos pioneiros da nova capital foi transformado, impactando diretamente as relações interpessoais entre os moradores e o Setor Central.

O Art Déco (Art Décorative, ou arte decorativa, em francês), iniciado na França em meados de 1910 e consagrado entre 1920 e 1930 após a Exposição Internacional de Artes Decorativas em 1925, sofreu grandes influências do futurismo e cubismo e é aplicado não só na arquitetura, mas também no design, moda e artes gráficas.

Suas principais características incluem um estilo puro e luxuoso, uso de formas geométricas, linhas retas e circulares estilizadas, design abstrato, e temas que frequentemente exploram animais e mulheres. Veja abaixo algumas pinturas da exposição Art Déco Festival.

Revitalização do Centro de Goiânia

Atualmente, há um esforço para revitalizar o comércio e recuperar o ambiente de dez anos atrás, quando a prefeitura ainda estava localizada no centro, uma mudança que também ocorreu em várias outras cidades brasileiras. Goiânia, sendo uma cidade jovem, ainda está assimilando essa transformação. A população está se adaptando às mudanças urbanísticas e ao novo conceito de espaço público e turismo na cidade.

Observando os espaços culturais no centro da cidade, é notável que eles permanecem ativos. Exemplos incluem o Teatro Goiânia, a Vila Cultural, o Centro Cultural Octo Marques, além de instituições como a Academia Goiana de Letras (AGL), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), entre outras. A Associação Goiana de Artes Visuais, por exemplo, instalou sua sede na Rua Cinco, no centro, onde mantém uma galeria de arte.

A proposta de Pedro é transformar o centro em um espaço turístico e cultural, dedicado à preservação e conservação do patrimônio. É necessário mudar o conceito e enxergar o centro como um espaço histórico e cultural. De acordo com o presidente da AGAV, a ideia de simplesmente trazer de volta lojas tradicionais como Pernambucanas ou C&A não é viável, porque o centro que existia no passado não existe mais.

Em vez disso, o foco deve ser na criação de um centro histórico e cultural que possa atrair visitantes e valorizar a história e a cultura locais. A revitalização do centro deve ser orientada para sua transformação em um polo turístico e cultural, garantindo que o patrimônio seja preservado e promovendo um novo conceito de utilização do espaço urbano.

“A Prefeitura não vai voltar para cá, não tem como. Mudou-se esse tipo de conceito. É isso que eu penso: não adianta ficar batendo na mesma tecla, tipo “vamos fazer isso”, “vamos transformar isso em mercado”, “vamos derrubar isso aqui e fazer um estacionamento”. Isso não vai mudar em nada. É necessário uma mudança no conceito da população também, que não valoriza a arte”, destaca Pedro Galvão.

O marco central do Setor Central, a Praça Cívica, onde foram erguidos os edifícios que abrigariam o poder estatal, permite o alcance visual de todos os pontos da cidade, além de convergir as três principais vias da cidade, projetadas com inspiração nos bulevares franceses (Avenidas Goiás, Araguaia e Tocantins). A junção das três avenidas forma a imagem de Nossa Senhora de Aparecida (veja abaixo).

Junção das três avenidas forma a imagem de Nossa Senhora de Aparecida | Foto: Giovanna Campos

Programação completa

DIAS 14 A 18 DE MAIO
Exposição de Pinturas Art Déco
Horários de funcionamento: 8h às 17h
Local: Museu Frei Confaloni / Antiga Estação Ferroviária – Av. Goiás,1799 – St. Central, Goiânia – GO

DIAS 20 A 24 DE MAIO
Exposição de Fotografias ‘ Memórias em Foco ‘
Horários de funcionamento: 9h às 18h
Local: Centro Cultural Marietta Telles Machado – Praça Cívica, nº 2.Goiânia – Goiás

PALESTRAS: 
DIA 28 DE MAIO
Palestrante 1: Júlia Mazzutti
“Conservaçãodo Patrimônio Moderno: O caso da casa modernista da rua 84 em Goiânia”
Horário: 15h
Local: SESP – Soluções Econômicas do Setor Produtivo – Rua 03, Nº1407, St. Central, Goiânia.

Palestrante 2: Bárbara Freire
“Rota Art Déco para Saber de Cor“
Horário: 16h30
Local: SESP – Soluções Econômicas do Setor Produtivo – Rua 03, Nº1407, St. Central, Goiânia.

As obras de arte estão previstas para serem leiloadas após o festival, em parceria com a Secretária de Cultura (Secult) de Goiás e a venda será revertida para a construção do Complexo Oncológico de Referência do Estado de Goiás (Cora).

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