‘Indústria do fumo sempre vendeu ilusão da redução de danos’, afirma o diretor do Incra

Roberto de Almeida Gil, oncologista e diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Incra), concedeu entrevista ao portal Extra. O tema principal é a situação oncólógica do Brasil, o que o leva a responder com foco na indústria tabagista, discutindo também a alimentícia.

O Brasil estabeleceu leis antifumo por volta de 1990, reduzindo o número de fumantes em 75%, segundo pesquisa da revista Lancet. Graças ao aumento do preço, à restrição de propaganda e às campanhas antitabagismo (e outras medidas) a estimativa até 2050 é de que 7 milhões de vidas sejam salvas.

Entretanto, ele afirma que os avanços das últimas décadas podem regredir porque a indústria tabagista faz pressão, interessada na regulamentação dos cigarros eletrônicos. O diretor também alerta que os ‘vapes’ servem para “introduzir na dependência da nicotina um perfil socioeconômico”, caracterizado pela idade jovem, que “nunca teria se aproximado dos produtos derivados do tabaco”.

Além disso, o uso do cigarro eletrônico “pode estimular a volta do uso do cigarro convencional, porque o dependente de nicotina vai procurar o produto que estiver ao seu alcance”. Segundo ele, a indústria tabagista trabalha com um produto que não deveria “sequer existir”, pois “mata um a cada dois usuários”.

“A indústria do fumo, ao longo de décadas, sempre vendeu a ilusão da redução dos danos. Primeiro foi através de filtros e piteiras; depois, dos cigarros light, modificações de conteúdo para que parecesse ter menor risco à saúde. Só que a gente sabe que tudo foi uma estratégia”, disse o diretor.

Gil ainda ressalta que mesmo com a comercialização permitida, o contrabando chega a 40% dos cigarros convencionais. Por isso, não concorda com o argumento de que a legalização diminuirá o contrabando. Ele acredita que a solução para esse problema está na fiscalização efetiva e na parceria com organizações internacionais e países vizinhos, como o Mercosul.

A relação entre a alimentação e o câncer

Gil alerta para a necessidade de agir para reverter os alarmantes índices de sedentarismo, consumo de processados e obesidade do povo brasileiro. De acordo com o especialista, esses fatores elevam o risco da ocorrência de pelo menos 15 tipos de câncer.

“O Brasil hoje tem 25% da sua população obesa, e 60% com sobrepeso”, afirma Gil. Ele explica que esses números podem ser explicados pelos ultraprocessados e pelas distorções nas políticas de preço, que “favorecem o consumo de alimentos não-saudáveis.

Por isso, na questão dos ultraprocessados, ele afirma que o consumo promove ganho de peso e excesso de gordura corporal. E que isso aumenta o risco de pelo menos 15 tipos de câncer.

“Os danos econômicos para a saúde com alimentação são tão grandes quanto os do cigarro, e a gente nunca vai recuperar isso através de impostos”, disse diretor do Incra.

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