Eleitores devem polarizar disputa entre Antônio Gomide e Márcio Corrêa em Anápolis

Na política ter “padrinhos” consistentes é importante, às vezes decisivo. Mas não basta contar com apoios substanciais. É preciso ter qualidades pessoais, referências que possam ser vistas e checadas pelos eleitores.

Então, é decisivo contar com apoios positivos, referenciais. Mas é crucial entender que os eleitores sabem distinguir se um candidato, notadamente para cargos majoritários, tem condições de gerir suas cidades, seus Estados e seu país.

Portanto, se o apoio é bom, mas o postulante não é, os eleitores podem deixá-lo de lado — escolhendo outro nome.

Pesquisa do instituto Paraná mostra que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, aparece com intenção de voto qualitativa para presidente da República. Como a eleição será disputada daqui a dois anos e quatro meses, os números do gestor goiano são muito positivos. Sobretudo, e é crucial enfatizar isto, são números dele — ainda sem o apoio de “padrinhos”.

Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ronaldo Caiado: gestores experimentados | Foto: Divulgação

Na mesma pesquisa, Jair Bolsonaro aparece empatado tecnicamente com o presidente Lula da Silva. Porém, como o ex-presidente está inelegível — e ninguém acredita, talvez nem ele próprio, que se tornará elegível em 2026 —, o petista-chefe, por enquanto, corre sozinho na raia.

Se 55% dos eleitores disseram não apoiar a reeleição de Lula da Silva, 42% admitiram que votarão no presidente. O número é positivo, mas reflete, principalmente, o fato de que o líder do PT é, no momento, o único “candidato” que realmente está definido. Até porque a esquerda não tem outro nome para substitui-lo. Na esquerda, é Lula da Silva ou nada.

Na direita, há ao menos cinco nomes: Michelle Bolsonaro (PL), Ratinho Júnior (PSD), Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado e Tarcísio de Freitas (Republicanos). Dos cinco, a mulher de Bolsonaro é a única que não tem experiência administrativa — o que, claro, não é positivo. Os demais são gestores experimentados.

O médico Ronaldo Caiado pode ser apoiado por Bolsonaro e pelo bolsonarismo? É possível. Acrescentará muito? Sim. Mas o gestor goiano tem a virtude de existir sem o bolsonarismo. Quer dizer, está na política há quase 40 anos — e foi deputado federal e senador e é governador.

Portanto, se apadrinhado por Bolsonaro, obterá o apoio do bolsonarismo — o que fortalecerá o que já é forte. Pode-se sugerir que o apoio da direita militante é aquilo que economistas chamam de “agregar valor”.

Por que Bolsonaro ainda não declarou apoio a um candidato? Primeiro, porque ainda sonha com a possibilidade de disputar a eleição de 2026. Segundo, porque, se definir o apoio neste momento, deixará de ser cortejado pelos políticos. Noutras palavras, perderá força. Enquanto “não” tem candidato, com vários querendo ser apadrinhados, o ex-presidente permanece no centro do palco.

O caso de Anápolis: Márcio Corrêa

Dentista, com doutorado, e empresário, dos mais atilados, Márcio Corrêa é um desses fenômenos que podem ser chamados de uma “força da natureza”. É político há pouco tempo e não é carreirista.

Márcio Corrêa: pré-candidato do PL a prefeito de Anápolis/Jornal Opção

Em 2020, com escassas experiência e estrutura política, disputou a Prefeitura de Anápolis e ficou em terceiro lugar, com uma votação expressiva — mesmo tendo enfrentado raposas felpudas, como Antônio Gomide, do PT, e o prefeito Roberto Naves, então no pP.

Pouco depois, em 2022, disputou mandato de deputado federal. Contando com estrutura montada por si próprio, ainda com escasso conhecimento no Estado, ficou como primeiro suplente do MDB. Ao lançar um candidato, o vereador Leandro Ribeiro, que só pedia votos em Anápolis, Roberto Naves pode ter sido um dos responsáveis pela derrota de Márcio Corrêa.

Porém, o que parecia uma mera derrota, acabou sendo um veículo para Márcio Corrêa massificar seu nome no Estado e, sobretudo, em Anápolis. Ele se tornou mais conhecido e, por isso, mais observado pelos eleitores.

Antônio Gomide: pré-candidato do PT a prefeito de Anápolis | Foto: Reprodução

Durante algum tempo substituiu o deputado Célio Silveira na Câmara dos Deputados. Ficou conhecido pela firmeza do discurso e pelo fato de ser posicionado. Criticou o governo de Lula da Silva e fez a defesa de Bolsonaro.

Márcio Corrêa já estava se preparando para ser candidato a prefeito de Anápolis e pensando em possíveis alianças. Político de direita, assumido como tal, não é, porém, um radical. Pelo contrário, pertence à direita moderada e civilizada, sem arroubos autoritários.

Ao definir que seria candidato a prefeito, começou a observar o cenário. Ao perceber com clareza as contradições do quadro político goiano — por exemplo, as dificuldades de ser candidato pelo MDB do vice-governador Daniel Vilela, do qual é amigo dileto —, decidiu que precisava mudar de partido.

A primeira opção, desde sempre, foi o Partido Liberal. Por que o PL? Por motivos vários. Primeiro, a identidade do partido com a direita. Segundo, pelo fato de ser a legenda de Bolsonaro — um general eleitoral de primeira linha em Anápolis. Terceiro, porque também é o partido do senador Wilder Morais e do ex-deputado federal Major Vitor Hugo — dois aliados.

Eerizania Freitas: pré-candidata do União Brasil a prefeita de Anápolis | Foto: Leoiran/Jornal Opção

Na eleição presidencial de 2022, Bolsonaro obteve 70,59% (153.507 votos) em Anápolis e Lula da Silva conquistou 29,41% (63.960 votos). Trata-se de uma diferença abissal.

Porém, de acordo com as pesquisas, quem lidera em Anápolis para prefeito é Antônio Gomide, do PT. Vale apresentar algumas hipóteses.

Primeiro, a direita, até pouco tempo, não havia definido seu candidato (ou candidatos). Então, não havia contraditório. Segundo, Antônio Gomide, por ser de uma esquerda moderada, não é visto como o petista tradicional, quer dizer, não é apontado como radical.

A tendência, em breve, com a direita tendo um candidato consistente, como Márcio Corrêa (e há outra candidata da direita, Eerizânia Freitas, do União Brasil), é que, mais do que os próprios candidatos, os eleitores definam a polarização.

É provável que, aos poucos, Antônio Gomide seja puxado para baixo. Pode até não se desidratar muito, porque é um candidato consistente — sua imagem é de administrador eficiente —, mas dificilmente manterá os índices das pesquisas iniciais.

A história das eleições sinaliza o seguinte: o candidato que está muito bem-posicionado, com índices na faixa de 40%, se começa a cair, vai perdendo expectativa de poder.

Se sua expectativa de poder vai diminuindo, mesmo que lentamente, a tendência é que seu principal adversário, ao ganhar “massa muscular”, vai tomando, paulatinamente, tal expectativa de poder. Aliados começam a esmorecer — às vezes trocando de lado — e os eleitores começam a olhar, por assim dizer, de soslaio. As viradas começam assim.

Há clima de virada de Anápolis? Nos bastidores comenta-se que sim. O engajamento do bolsonarismo ao lado de Márcio Corrêa, além das qualidades pessoais do pré-candidato — que, além de bem-sucedido como empresário, é uma pessoa de temperamento arrojado, que não desanima —, tende a fazer a diferença.

Pesquisadores e cientistas políticos sugerem que os eleitores brasileiros têm uma característica: apreciam a polarização política e, por isso, tendem a observar, durante toda a pré e a campanha, dois candidatos — aqueles que avaliam que têm chance de ganhar.

Se os experts estiverem certos, a tendência é que, desde já, os eleitores comecem a observar Antônio Gomide e Márcio Corrêa. A rigor, os eleitores de Anápolis já começam a polarizar.

Antônio Gomide será o símbolo de Lula da Silva — ainda que ao petista isto não seja satisfatório, não há como esconder o padrinho que atrapalha — e Márcio Corrêa será o símbolo de Bolsonaro. É assim que vai ser.

Há indícios, e não só pelo resultado da disputa de 2022, de que o bolsonarismo é muito mais forte do que o petismo em Anápolis. Por isso, na semana passada, um marqueteiro disse ao Jornal Opção que, se não ganhar no primeiro turno, Antônio Gomide terá grandes dificuldades no segundo turno.

Mas o problema do petista talvez seja ainda mais grave. Sem desmerecer sua posição atual, de líder nas pesquisas de intenção de voto, é real a possibilidade de ele ser superado, ainda no primeiro turno, por Márcio Corrêa — se as pesquisas que estão circulando nos gabinetes verdes, azuis e vermelhos estiverem corretas.   

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