Vilmar Rocha diz que, em tempo de inteligência artificial, Lula é um político analógico

O ex-deputado federal Vilmar Rocha (PSD) é, além de político, um intelectual, com livro publicado, por exemplo, sobre a trajetória do populismo na América Latina. Então, quando examina um fato e uma personalidade política, não o faz, como é regra, necessariamente para combatê-los. O faz, isto sim, muito mais para compreendê-los. É sua vocação de scholar, pois, durante décadas, deu aulas na Universidade Federal de Goiás, formando gerações.

Há uma diferença entre Vilmar Rocha e o mero intelectual. É que, ao lado da formação intelectual, o político goiano tem a experiência, insubstituível e incontornável, da vivência cotidiana entre políticos. Como deputado federal, por cinco mandatos, e secretário de Estado.

No momento, Vilmar Rocha dedica-se a “estudar” o presidente Lula da Silva, do PT, e seu governo. “Por me considerar um homem de Estado, que tem responsabilidade política, social e cultural, não me alinho com aqueles que fazem ataques pessoais. Por mais que eu tenha discordância de fundo, tenho de respeitar o presidente. A Presidência da República é, em si, uma instituição.”

Lula da Silva com Arthur Lira e Rodrigo Pacheco | Foto: Jeferson Rudy/Agência Senado

Feita a ressalva, Vilmar Rocha afirma que, como presidente, um homem de Estado, “Lula está relativamente ‘perdido’. Trata-se de uma cabeça velha — e esclareço que não estou falando de idade, e sim de mentalidade — querendo administrar uma potência econômica como o Brasil como se 2024, 22 anos depois, fosse 2002, 2003. O mundo mudou, e muito, em duas décadas. Os homens e as mulheres também precisam mudar e estão mudando. No tempo da inteligência artificial, pensar de maneira analógica, retardatária, é um prejuízo para si próprio e, no caso de um presidente, para o país”.

Lula da Silva, de acordo com Vilmar Rocha, não conseguiu montar um governo de primeira linha, atendendo aos novos tempos. “Com exceção de Fernando Haddad, o governo de Lula da Silva é uma ideia fora do lugar. Os ministros, talvez por falta de comando centralizado no Palácio do Planalto, estão batendo cabeça e não sabem o que fazer. Parece que a gestão do petista-chefe está funcionando — ou deixando de funcionar — no piloto automático.”

Fernando Haddad | Foto: Diogo Zacarias/MF
Fernando Haddad: um ministro realista e eficiente | Foto: Diogo Zacarias/MF

Diz-se, sublinha Vilmar Rocha, que Lula da Silva fala “muita bobagem”. “Mas o que é preciso dizer a respeito de sua fala é que, no fundo, é desconectada da realidade, do mundo real. O líder petista parece não entender que a fala de um presidente não pode ser a mesma de um líder partidário. Porque Lula da Silva não representa, na Presidência, ou PT ou uma ideologia específica. Ele tem de representar o país — todos os cidadãos, independentemente de suas ideologias. Sua ligação com a Venezuela, com Cuba e Nicarágua mostra uma profunda desconexão com o mundo real, com aquilo que realmente pensa e faz um democrata.”

Vilmar Rocha frisa que Lula da Silva “não tem o que oferecer, em termos de inovação, aos brasileiros. É o velho tentando sedimentar o velho — não o novo. Mesmo respeitando o presidente, tenho de sugerir que Lula da Silva não é um homem de Estado. Pelo contrário, é um político comum, defasado, que perdeu o timing e a conexão com a sociedade contemporânea. É um pequeno populista”.

O ex-deputado afirma que não fica contente ao fazer uma crítica tão rigorosa ao presidente Lula da Silva. “Na verdade, eu gostaria fazer diferente — ter alguma coisa para elogiar, para além da honestidade da ministra da Saúde, Nísia Trindade, ou do realismo de Fernando Haddad, que é eficiente. Governos precisam ser mais operacionais, menos burocráticos. É a realidade que ‘decide’, não a ideologia. Quando se coloca à ideologia como impulsionadora da realidade o que ocorre é exatamente o contrário, a sociedade não se move — ela para, fica desnorteada.”

Adriana Accorsi: uma política de valor e não radical | Foto: Léo Iran/Jornal Opção

O Brasil, postula Vilmar Rocha, é a nona economia do mundo — chegando, agora, ao oitavo lugar. “Portanto, há uma economia sólida, um mercado sedimentado. O que falta é uma visão política mais ampla. Ouso sugerir que a economia, no país, está bem à frente da política. Ressalvo que a mentalidade retardatária — geradora do atraso — não é exclusiva do PT e de seus aliados. Há uma direita é sua irmã siamesa. O fato é que, mesmo tendo potencial, o país não está sendo ‘despertado’ pelo governo de Lula da Silva.”

Fundador do PFL, do Democratas (DEM) e do PSD, Vilmar Rocha destaca que “o poder é político, mas a autoridade é moral e intelectual. Em suma, falta autoridade a Lula da Silva para conduzir o país. Talvez seja possível dizer que, no lugar de caminhar adiante dos brasileiros, ele pilota a vanguarda do atraso. Há boas intenções? Até acredito que sim, mas não se governa exclusivamente com intenções. É preciso fazer as coisas, convencer os cidadãos a seguir por determinado caminho. Veja-se que o governo Lula da Silva enfrenta uma greve das universidades federais. No lugar de tentar resolver a crise das universidades, que é financeira e de estrutura — cada vez mais defasada —, o presidente só manda dizer que não tem condições de conceder aumento salarial. Mas qual é seu projeto para a educação superior? Não parece ter”.

Vilmar Rocha enfatiza que Lula da Silva se tornou refém, não do Congresso como um todo, e sim de um grupo que o opera, às vezes fisiologicamente, mais por falta de autoridade do presidente do que de qualquer outra coisa. “A força do dito Centrão é derivada da fragilidade moral e política do governo de Lula da Silva.”

Se critica o governo de Lula da Silva, enfatizando que evita a fulanização da crítica, Vilmar Rocha contrapõe que mantém um relacionamento “altamente republicano” com políticos do PT em Goiás.

“Trata-se de uma relação respeitosa. A deputada federal Adriana Accorsi foi minha aluna. É uma política séria, que admiro. Cumpre um papel importante na política do Estado. É republicana, não é radical, não é xiita. O que poderá prejudicar Adriana, na disputa para prefeita de Goiânia, não é ela, e sim o PT e, sobretudo, a imagem desgastada de Lula da Silva. Sou amigo do ex-reitor da UFG Edward Madureira, um gestor eficiente. Ele é suplente de deputado federal. É uma figura respeitável. O advogado Edilberto Dias, do PT, também é uma figura diferenciada.” (E.F.B.)

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