Haddad discursa no G20 e diz: “Que os bilionários do mundo paguem seus impostos”

Uma nova abordagem sobre a globalização e a taxação dos bilionários no foram os principais pontos apresentados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante a abertura da reunião dos ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do G20, que reúne as principais economias mundiais, a União Africana e a União Europeia, no Pavilhão da Bienal, em São Paulo.

Haddad, mesmo participando virtualmente devido à sua condição de ter sido diagnosticado com Covid-19, enfatizou a necessidade de uma transformação no sistema global.

“Discursos sobre a globalização oscilaram entre o otimismo desenfreado e a sua completa negação”, afirmou Haddad, sobre os últimos 30 anos. O ministro destacou que a última onda de globalização, caracterizada pela busca incessante de lucratividade por meio da arbitragem trabalhista e regulatória internacional, deixou um legado complexo.

“Ao mesmo tempo em que milhões saíram da pobreza, especialmente na Ásia, houve substancial aumento de desigualdades de renda e riqueza em diversos países”, disse.

“Chegamos a uma situação insustentável, em que os 1% mais ricos detém 43% dos ativos financeiros mundiais e emitem a mesma quantidade de carbono que os dois terços mais pobres da humanidade.”

Crise de 2008

Haddad ainda argumentou que a reação contra a globalização atual pode ser atribuída ao modelo que prevaleceu até a crise financeira de 2008. “Até então, a integração econômica global se confundiu com a liberalização de mercados, a flexibilização das leis trabalhistas, a desregulamentação financeira e a livre circulação de capitais. As crises econômicas resultantes causaram grandes perdas socioeconômicas. Enquanto a hiper-financeirização prosseguiu em ritmo acelerado, um complexo sistema offshore foi estruturado para oferecer formas cada vez mais elaboradas de evasão tributária aos super-ricos” afirmou o ministro.

Haddad enfatizou a falta de ganhadores na crise atual da globalização, observando que, embora os países mais pobres suportem um ônus proporcionalmente maior, a ideia de que os países ricos podem se isolar e concentrar-se apenas em soluções nacionais é ilusória.

“Em um mundo no qual trabalho e capital são cada vez mais móveis, pobreza e desigualdade precisam ser enfrentadas como desafios globais, sob a pena da ampliação das crises humanitárias e imigratórias.”

Meio ambiente

Para o ministro, é necessário entender a mudança climática e a pobreza como desafios verdadeiramente globais, a serem enfrentados por meio de uma nova globalização socioambiental.

Os temas propostos pela presidência brasileira para a primeira reunião dos gestores de finanças do G20 refletem a busca por uma nova globalização. Haddad ressaltou que essa abordagem se concentra na cooperação internacional para resolver desafios sociais e ambientais.

“Acreditamos que a desigualdade não deve ser apenas tratada como uma preocupação social, um mero corolário da política econômica. Nossa proposta é centrar a desigualdade como uma variável fundamental para a análise de políticas econômicas. Queremos desenvolver as ferramentas analíticas mais adequadas para isso, nos beneficiando de pesquisas recentes de economistas e outros cientistas sociais, que têm dado importantes contribuições ao tema”, comentou Haddad, sobre as disparidades sociais no mundo.

O ministro sublinhou a importância da tributação progressiva como um elemento central na construção de um mundo mais justo, destacando a necessidade de os bilionários do mundo contribuírem de forma justa com impostos.

“Reconhecendo os avanços obtidos na última década, precisamos admitir que ainda precisamos fazer com que os bilionários do mundo paguem sua justa contribuição em impostos”, disse.

Essa discussão sobre equidade tributária foi apontada como essencial para a construção de um futuro mais equitativo e sustentável.

“Além de buscar avançar nas negociações em andamento na OCDE e na ONU, acreditamos que uma tributação mínima global sobre a riqueza poderá constituir um ‘terceiro pilar’ para a cooperação tributária internacional”, disse.

“O Brasil vê o debate sobre a dívida global e a sustentabilidade ambiental e social como profundamente interligados. O endividamento crônico deve ser enfrentado para que os países tenham espaço fiscal para fazer os investimentos necessários para a transição energética, combatam a fome e a pobreza, e atinjam seus próprios objetivos de desenvolvimento”, finalizou.

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