Goiás em Alerta: Colapso no Maranhão aumenta preocupação com a segurança das pontes no Brasil

A recente tragédia no Maranhão, com o colapso da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira sobre o Rio Tocantins, trouxe à tona preocupações sobre a segurança das pontes em todo o Brasil, especialmente em Goiás. O incidente, ocorrido em 22 de dezembro, véspera de Natal, resultou na morte de pelo menos nove pessoas encontradas. Vale destacar que a estimativa da Defesa Civil local é de aproximadamente 19 pessoas envolvidas no momento do desabamento.

Em Goiás, a situação das pontes também desperta apreensão. Em março de 2023, um relatório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) apontou que dez pontes em Goiânia estavam em estado crítico, incluindo a ponte da Avenida T-63 sobre o Córrego Cascavel e a ponte da Rua Doutor Constâncio Gomes sobre o Córrego Botafogo.

Ponte sobre o Rio Verdão, entre os municípios de Maurilândia e Turvelândia, no Sudoeste do Estado l Foto: Goinfra

Além disso, a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) tem enfrentado desafios significativos na manutenção e reconstrução de pontes em diversas regiões do estado. Em janeiro de 2024, a Goinfra declarou estado de emergência para a ponte sobre o Rio das Palmeiras, na GO-442, em Campinaçu, devido aos danos provocados por fortes chuvas.

Por outro lado, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) tem avançado na instalação de novas pontes em Goiás, contribuindo para a melhoria da infraestrutura e da segurança viária.

Apesar desses esforços, a tragédia no Maranhão reforça a necessidade de investimentos constantes na manutenção e modernização das pontes, tanto em Goiás quanto em outras regiões do país. É essencial que as autoridades competentes deem prioridade à segurança da infraestrutura viária, realizando inspeções regulares e intervenções preventivas para evitar acidentes e proteger os usuários das rodovias.

Para aprofundar a análise sobre a situação das pontes em rodovias estaduais e federais de Goiás, o Jornal Opção consultou os órgãos responsáveis, e um engenheiro especialista em construções de pontes que apresentaram um panorama das condições de trafegabilidade dessas estruturas; veja a seguir:

Goinfra Intensifica Trabalhos em Pontes de Rodovias Estaduais

A Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) informa que está finalizando o levantamento das condições das obras de arte especiais, como pontes e bueiros, nos mais de 21 mil quilômetros da malha rodoviária estadual. O mapeamento, que inclui intervenções realizadas em 2024, deve ser concluído até o primeiro trimestre de 2025.

De acordo com a agência, para garantir a segurança dos usuários, 40 equipes de manutenção atuam em todas as regiões do estado, realizando vistorias e serviços rotineiros, inclusive nas pontes. Além disso, são realizadas manutenções preventivas e planejadas obras mais complexas, como melhorias funcionais, restaurações ou até a substituição completa de estruturas.

Ponte sobre o Rio Paranã, na rodovia GO-484, em Formosa, no Entorno do Distrito Federal l Foto: Goinfra

Entre as obras de recuperação já programadas estão a ponte sobre o Rio Paranaíba, na GO-139 (Ponte Quincas Mariano), e as pontes sobre o Rio dos Bois (GO-206) e o Rio Corrente (GO-184).

De 2019 a 2022, a Goinfra esclarece que executou a construção de mais de 130 pontes de concreto, substituindo estruturas de madeira e criando travessias. O levantamento referente aos anos de 2023 e 2024 está em fase de conclusão.

Em 2026, a agência planeja lançar um novo programa de implantação de obras de arte especiais (OAEs), contemplando tanto a substituição de pontes de madeira quanto a construção de novas estruturas. Vale destacar que todos os investimentos em pontes são custeados exclusivamente pelo Tesouro Estadual, sem repasses do governo federal via Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

No caso específico da ponte sobre o Rio Água Parada, na GO-341, a Goinfra está finalizando a instalação de uma estrutura provisória com vigas de concreto pré-moldado para atender a região emergencialmente. Paralelamente, a construção de uma nova ponte de 60 metros, projetada para suportar o tráfego intenso de veículos de carga, está em andamento.

Ponte de 180 metros sobre o Rio dos Bois, na GO-487, entre Edéia e Vicentinópolis l Foto: Goinfra

Com essas ações, a Goinfra reforça seu compromisso com a segurança e a eficiência da malha viária estadual.

Em relação a uma denúncia de produtores sobre a queda de uma ponte sobre o Rio Água Parada, na GO-341, no município de Mineiros, a Goinfra comunica que está concluindo a implantação de uma estrutura com vigas de concreto pré-moldado para atender emergencialmente a região, enquanto executa a construção de uma nova ponte de 60 metros, mais robusta e capaz de absorver todo o tráfego de veículos de carga.

A ponte caiu quando um caminhão carregado de grãos passava por ela. Um produtor que fez a denúncia disse que a rodovia possui tráfego intenso de caminhões pesados e é essencial para o escoamento da produção agrícola da região.

Na véspera de Natal, motoristas que trafegavam pela GO-164 perceberam uma rachadura na cabeceira da ponte sobre o Rio Crixás Açu, no trecho que liga São Miguel do Araguaia à GO-156/Novo Mundo, e postaram vídeos nas redes sociais mostrando a situação.

Logo após as denúncias, a Goinfra afirmou que, assim que o problema foi identificado, na tarde de 25 de dezembro, equipes se deslocaram ao local para iniciar os serviços, sendo necessária a interdição total da pista, com o acompanhamento do Comando de Policiamento Rodoviário (CPR).

Ainda segundo a Goinfra, os trabalhos foram iniciados por volta das 18 horas, com reparos no solo para fortalecer a base, e o tráfego foi reestabelecido ainda na noite do dia 25. Na manhã de quinta-feira, 26, as equipes retomaram os trabalhos para a conclusão dos reparos no solo e a execução da capa asfáltica. De acordo com a Goinfra, todo o trabalho foi concluído e o tráfego sobre a ponte foi normalizado.

Em uma publicação nas redes sociais, o presidente da Goinfra, Pedro Sales, enfatizou que todos os motoristas que passam pelas rodovias estaduais são os verdadeiros fiscais da pasta e pediu que, ao perceberem qualquer anomalia nas estradas ou nas pontes, façam a denúncia através do Instagram da Goinfra. “Quero deixar uma dica para os motoristas: ao verem algum tipo de intercorrência, nos comuniquem através do Instagram da Goinfra e imediatamente tomaremos as devidas providências para solucionar os problemas apontados”, garantiu.

Pedro Sales, presidente da Goinfra l Foto: Redes sociais/Instagram

Sales ressaltou que a Agência possui equipes de prontidão nas 20 regionais espalhadas pelo estado, e o tempo de resposta não ultrapassa 48 horas. Pedro Sales afirmou que, devido às ocorrências causadas pelo período chuvoso, estará de prontidão durante todo o mês de janeiro. “Não arredarei o pé do meu posto de trabalho, pois sei que os eventos climáticos mais dramáticos acontecem em janeiro e muitas decisões precisam ser tomadas de imediato”, disse. Pedro Sales também afirmou que a Goinfra está trabalhando para substituir todas as pontes de madeira por pontes de concreto.

Engenheiro alerta sobre as condições das pontes em Goiás e no Brasil

O engenheiro civil Rodrigo Carvalho da Mata, formado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), mestre pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutor em Engenharia de Estruturas pela Universidade de São Paulo (USP), conversou com o Jornal Opção sobre a situação das pontes em Goiás e no Brasil. Ele destacou, em especial, a ponte de 360 metros de comprimento sobre o Rio das Almas, localizada na BR-153, entre Nova Glória e Jardim Paulista.

Engenheiro civil Rodrigo Carvalho da Mata: “Essa ponte foi construída na década de 60, seguindo normas semelhantes às da ponte que desabou na divisa do Tocantins com o Maranhão” l Foto: Arquivo pessoal

Rodrigo, que possui em seu portfólio mais de 50 projetos de pontes, alertou sobre as condições reais de trafegabilidade dessa estrutura. “Essa ponte foi construída na década de 60, seguindo normas semelhantes às da ponte que desabou na divisa do Tocantins com o Maranhão”, afirmou. O especialista fez um alerta às autoridades sobre avarias importantes na estrutura da ponte. “Essa ponte tem problemas parecidos com a que desabou”, destacou.

O professor chama atenção para a tipologia do carregamento da década de 60. Ele explica que, naquela época, o veículo dimensionado pela norma tinha 32 toneladas, enquanto hoje o equivalente é de 45 toneladas. “Essas pontes antigas devem passar por reabilitações devido a essas características de carregamento”, frisou.

Rodrigo lembra que, em 2017, o governo federal publicou um decreto permitindo caminhões de até 94 toneladas em algumas estradas, além de aumentar a porcentagem de transbordo de carga, ou seja, o excesso de peso.

Imagem mostra avarias na parte central da ponte l Foto: Rodrigo da Mata

Rodrigo da Mata fez uma análise das normativas ao longo dos anos. De 1950 a 1960, a carga tipificada era de 12 toneladas; de 1960 a 1975, a norma foi ajustada para 36 toneladas; entre 1945 e 1985, começaram a aparecer pontes mais largas, mas ainda com a permissão de 36 toneladas. De 1985 a 2013, as normas passaram a permitir veículos de 45 toneladas. Contudo, a partir de 2013, o professor destaca que o coeficiente de impacto se tornou mais rigoroso, exigindo reforços adicionais. Entretanto, ele alerta que caminhões chegam a trafegar com cargas de 90 toneladas em pontes construídas sob as normas de 1960. “Isso é preocupante”, afirmou. O engenheiro também ressalta que, no período da colheita de cana, caminhões com mais de 120 toneladas trafegam sobre a ponte em questão, além de outras.

Rodrigo da Mata também destacou casos recentes no estado de Goiás: “Duas pontes caíram este ano. No início do ano, uma ponte de madeira sobre o Rio do Peixe, na região de Crixás, colapsou. Outra, no córrego Água Fria, em Caiapônia, caiu em julho ou agosto, mesmo após termos feito uma inspeção a pedido da FAEG no início do ano.”

Segundo o engenheiro, os principais fatores que levam ao colapso de pontes de madeira são a falta de manutenção e o excesso de carga. “As pontes de madeira podem durar 30 ou 40 anos, desde que sejam mantidas e não sobrecarregadas. No entanto, com caminhões cada vez mais pesados, essas estruturas não conseguem suportar”, explicou.

Rodrigo reforçou a necessidade de fiscalização de carga e de manutenção periódica. “Muitas vezes, os órgãos responsáveis, como o DNIT e a Seinfra, não possuem informações atualizadas sobre as condições das pontes, mesmo existindo normas, como a NBR 9452, que exigem inspeções anuais.”

Rachaduras na parte central da ponte l Foto: CBM/Ceres

Ao comentar sobre a ponte do Rio das Almas, ele afirmou que, sem balanças e planos de manutenção, a estrutura também está em risco. “Não estamos dizendo que a ponte vai cair amanhã, mas ela precisa ser inspecionada e monitorada. Caso contrário, o susto será muito maior.”

Rodrigo ainda destacou o desafio das pontes construídas há décadas. “Na época, os engenheiros não previam que caminhões de até 90 toneladas passariam por essas pontes. A quantidade e o peso dos veículos de hoje são agravantes sérios.” Ele sugere soluções, como limitar a carga permitida ou, em casos mais extremos, construir uma nova ponte.

“É preciso fazer um estudo de engenharia. Se o custo do reforço for próximo ao de uma nova construção, então o planejamento deve priorizar a substituição. No entanto, há casos em que é possível limitar o tráfego a veículos leves, como na ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, que foi restaurada por seu valor histórico”, exemplificou.

Ponte sobre o Rio das Almas l Foto: Rodrigo da Mata

O engenheiro finalizou ressaltando a importância da ação preventiva. “Nós, da academia, temos alertado sobre o risco das pontes antigas há anos. A questão é que, muitas vezes, nem mesmo os municípios sabem quantas pontes possuem, quanto mais as condições delas. É necessário refletir antes que uma tragédia maior aconteça.”

Grupo EcoRodovias

Responsável pela manutenção da ponte sobre o Rio das Almas, a concessionária Ecovias do Araguaia enviou uma nota esclarecendo as reais condições da ponte. Veja a nota na íntegra.

A Ecovias do Araguaia, concessionária do Grupo EcoRodovias, esclarece que a estrutura sobre o Rio das Almas, localizada no km 284 da BR-153/GO, conforme vistoria técnica recente, está em condições seguras, não oferecendo assim riscos à segurança dos condutores.

Reiteramos que, anualmente, são realizadas avaliações técnicas por especialistas em todas as pontes e viadutos do sistema rodoviário sob nossa concessão. No caso específico da Obra de Arte Especial (OAE) sobre o Rio das Almas, a estrutura passou recentemente por uma avaliação detalhada, sem identificar qualquer patologia que comprometa sua capacidade estrutural. Além disso, com o avanço das obras de duplicação previstas para o trecho sob nossa administração, a ponte será submetida a intervenções de alargamento e demais adequações, seguindo o padrão das melhorias já entregues nas pontes sobre o Córrego Pouso do Meio na BR-153, Rio Baião e Rio Lajinha, na BR-414, e sobre o Córrego Cancela, na BR-080.

Rachaduras na cabeceira da ponte sobra o Rio das Almas l Foto: CBM/Ceres

Por fim, a Concessionária reforça que seu corpo técnico realiza monitoramento contínuo de todas as estruturas para garantir a segurança dos usuários, especialmente neste período de aumento no fluxo devido às festas de fim de ano.

Entendemos que recentes casos envolvendo pontes em outras regiões podem gerar apreensão, mas reforçamos que a disseminação de informações sem a devida avaliação técnica pode provocar interpretações equivocadas, causando preocupações desnecessárias entre os usuários. Por isso, orientamos que os usuários busquem fontes confiáveis e priorizem dados técnicos ao compartilhar informações. Nosso compromisso é assegurar a segurança e a transparência em todas as nossas operações, mantendo a sociedade sempre bem-informada.

Triunfo Concebra assegura a segurança das pontes sob sua administração em Goiás

A Triunfo Concebra, em resposta à reportagem, afirmou que as pontes localizadas no trecho sob sua responsabilidade não apresentam risco de colapso. De acordo com a concessionária, a manutenção dessas estruturas é realizada regularmente por empresas especializadas, seguindo os critérios técnicos estabelecidos pelas normas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

Estrutura da cabeceira da ponte Ciro de Almeida, na BR 153, localizada sobre o Rio Paranaíba, na divisa entre Goiás e Minas Gerais l Foto: Divulgação

No trecho da BR-153 em Goiás, administrado pela Triunfo Concebra, há 73 Obras de Arte Especiais (OAEs), que incluem pontes e viadutos. A empresa destacou que a responsabilidade estrutural é exclusiva dos viadutos que fazem continuidade direta à rodovia concedida.

Em relação à ponte Ciro de Almeida, localizada sobre o Rio Paranaíba, na divisa entre Goiás e Minas Gerais, a concessionária esclareceu que não há problemas estruturais. No entanto, foi identificada uma erosão em uma descida d’água. A Triunfo Concebra informou que uma intervenção paliativa já foi realizada e que está sendo definida a solução de engenharia para a correção definitiva. A obra tem previsão de conclusão para o primeiro trimestre de 2025, após a finalização do cronograma.

Codevasf

Além da Goinfra, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) também executa a construção de pontes em Goiás. A instituição esclareceu que não realiza repasses para outros entes, mas constrói as pontes diretamente. A Codevasf destacou que já construiu 56 pontes no estado, todas com estrutura mista, composta por viga metálica e concreto armado.

Defesa Civil

O Corpo de Bombeiros Militar de Goiás coordena o programa “Operação Goiás Alerta e Solidário”, em parceria com a Defesa Civil estadual e diversos órgãos. O programa abrange ações de prevenção, preparação para desastres, resposta, assistência às vítimas e reconstrução das áreas afetadas por desastres, especialmente durante o período chuvoso. A instituição reforça que está preparada para oferecer uma resposta ágil e eficaz a qualquer desastre que possa ocorrer no estado.

Equipes da 18ª Companhia Independente de Bombeiros Militar (CIBM) de Ceres realizaram, na manhã desta sexta-feira, 27, uma vistoria na ponte sobre o Rio das Almas, após a circulação de vídeos nas redes sociais que alertavam sobre fissuras na estrutura. Durante a inspeção, foram detectadas algumas fissuras nas cabeceiras e na parte central da ponte, próximas à junta de dilatação.

Rachaduras na parte da central da ponte l Foto: CBM/Ceres

O comandante da companhia, Major Almeida, explicou que a vistoria foi realizada para averiguar as condições da ponte e tranquilizar a população. “Nossa vistoria verificou algumas fissuras nas cabeceiras e na parte central, junto à junta de dilatação. Porém, numa primeira análise, essas fissuras não representam risco imediato à segurança”, afirmou.

Ele ainda esclareceu que, devido ao sistema de construção da ponte, por balanço sucessivo, a estrutura possui certa mobilidade, o que pode gerar fissuras no asfalto. “Esse tipo de construção permite que a ponte se movimente de forma controlada, o que pode causar o surgimento dessas fissuras, mas isso não significa que há risco iminente”, explicou.

O relatório da vistoria será encaminhado ao Comando de Operações de Defesa Civil e à concessionária ECOVIAS, responsável pela administração do trecho. A própria ECOVIAS já informou que uma vistoria foi realizada e que a ponte está em condições adequadas para o tráfego, sem riscos à segurança dos motoristas. “A ECOVIAS, sendo responsável pela via, já confirmou que a ponte está segura para o tráfego”, concluiu o Major Almeida.

Imagem da parte inferior da ponte l Foto: CBM/Ceres

Também na manhã desta sexta-feira, 27, o Corpo de Bombeiros Militar de Goiás, em parceria com a Defesa Civil de Minas Gerais e a Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (Compdec) de Araguari (MG), realizou uma vistoria preliminar na ponte Quinca Mariano, localizada na divisa entre os estados de Goiás e Minas Gerais.

Com 1.200 metros de extensão, a estrutura, que atravessa o lago das Centrais Elétricas de Furnas, formado pelas águas do Rio Paranaíba, exibe rachaduras e buracos na pista. Moradores, motoristas e políticos locais vêm denunciando essas avarias há bastante tempo. A ponte, construída em 1975, apresenta sérios problemas estruturais.

Imagens revelam rachaduras na ponte l Foto: Redes sociais

De acordo com a Defesa Civil de Goiás, a vistoria realizada foi de caráter preliminar, consistindo em uma inspeção visual acompanhada de registro fotográfico. O relatório gerado será enviado aos órgãos técnicos especializados em engenharia e infraestrutura. Apesar dos problemas observados, a ponte permanece em condições normais de uso, sem alterações no tráfego local.

A Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) informou que realiza manutenções periódicas na ponte e está atualmente preparando sua restauração.

A Ponte possui 1.200 metros de extensão l Foto: Divulgação

Goiânia

Em 2022, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) realizou uma vistoria nas Obras de Arte Especiais (OAEs) da capital. Das 75 OAEs cadastradas no Crea, 66 foram vistoriadas, sendo 49 pontes e 17 viadutos. O relatório elaborado pelo órgão, na época, apontou pelo menos 10 pontes em situação crítica, necessitando de intervenções urgentes.

O relatório, realizado em parceria com a PUC Goiás e o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Goiás (Ibape-GO), foi apresentado à Prefeitura de Goiânia no dia 24 de janeiro de 2023.

Vista geral da ponte da Rua Dr. Constâncio Gomes sobre o córrego Botafogo l Foto: Crea/GO

De acordo com o documento, as pontes que exigem maior prioridade de intervenção estão localizadas em áreas de intenso tráfego, como a ponte da Avenida T-63 sobre o Córrego Cascavel e as pontes sobre o Córrego Botafogo. O engenheiro Rodrigo da Mata, que trabalhou no projeto, relata que, até o momento, nada foi feito pela prefeitura.

Confira a lista das dez pontes mais críticas apontadas no relatório:

  1. Ponte da Avenida T-63 sobre o Córrego Cascavel
  2. Ponte da Rua Doutor Constâncio Gomes sobre o Córrego Botafogo
  3. Ponte da Avenida Universitária sobre o Córrego Botafogo
  4. Ponte da Avenida 24 de Outubro sobre o Córrego Cascavel
  5. Ponte da Rua José Hermano sobre o Ribeirão Anicuns
  6. Ponte da Avenida Perimetral Norte sobre o Ribeirão João Leite
  7. Ponte da Avenida T-9 sobre o Córrego Cascavel
  8. Ponte da Avenida Presidente Kennedy sobre o Ribeirão João Leite
  9. Ponte da Avenida Marechal Rondon sobre o Ribeirão Anicuns
  10. Ponte da Avenida das Pirâmides sobre o Córrego Água Branca

O Crea enfatiza que as estruturas de engenharia necessitam de acompanhamento, monitoramento e manutenções periódicas para preservar suas características estruturais, funcionais e de durabilidade ao longo de sua Vida Útil de Projeto (VUP), que é o tempo estimado para um sistema atender aos requisitos de desempenho. Para as OAEs, esse período é de 50 anos ou mais, conforme a ABNT NBR 15.575: 2013.

Detalhe das fundações da ponte da Av. T-63 l Foto: Crea/GO

A entidade alerta que os acidentes envolvendo OAEs estão frequentemente relacionados à falta de manutenção e à ausência de medidas preventivas. Nesse contexto, a Engenharia Diagnóstica desempenha um papel fundamental, pois as OAEs precisam ser avaliadas periodicamente para prevenir, identificar e mitigar falhas que possam comprometer sua operação segura como elementos de infraestrutura urbana e de mobilidade.

O engenheiro Lamartine Moreira, presidente do Crea-GO, explicou que, a partir das constatações oriundas das vistorias, foram atribuídas notas aos parâmetros estrutural, durabilidade e funcional de cada Obra de Arte Especial (OAE), conforme estabelece a norma ABNT NBR 9452:2019. Além disso, uma quarta nota foi atribuída levando em conta a Hierarquia Viária da via onde a OAE está localizada.

“Por meio de uma equação específica, as quatro notas atribuídas a cada OAE foram ponderadas e resultaram no Grau de Deterioração (Gd), que deve ser utilizado como critério para a priorização de intervenções e manutenções nas pontes e viadutos da Capital”, destacou Lamartine.

Após a conclusão do estudo, o relatório foi encaminhado à Prefeitura de Goiânia e ao Ministério Público. No final do primeiro semestre deste ano, o engenheiro e sua equipe promoveram uma roda de conversa com os pré-candidatos a prefeito de Goiânia, entregando o material a todos, incluindo o prefeito eleito, Sandro Mabel.

Vista geral da ponte da Av. das Pirâmides sobre o córrego Água Branca l Foto: Crea/GO

“Uma das recomendações que fizemos foi a retirada das placas metálicas dos viadutos da Avenida 85. Infelizmente, a remoção só foi iniciada após o trágico incêndio ocorrido no viaduto”, lamentou Lamartine.

No estudo, a classificação da condição de conservação das OAEs, conforme a ABNT NBR 9452:2019, envolveu a atribuição de notas de 1 a 5 para os parâmetros estrutural, durabilidade e funcional. Para o cálculo do Grau de Deterioração (Gd), também foi considerada a nota referente à hierarquia da via onde as Obras de Arte Especiais estão localizadas.

Seinfra

Indagada sobre o assunto, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) enviou uma nota ratificando a gravidade dos problemas, mas minimizando a urgência das intervenções. Veja a nota na íntegra:

A Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra), recebeu um relatório do CREA, que apresentou uma análise visual das pontes da capital, classificando-as de acordo com o grau de risco.

A partir desse relatório, a Seinfra contratou uma empresa para realizar um trabalho semelhante, mas com testes, ensaios e cálculos, também atribuindo uma classificação de risco. Embora algumas pontes tenham sido classificadas com problemas graves, nenhuma apresentou risco de queda imediata.

No relatório da empresa, foram indicadas soluções para cada problema identificado. Com base nessas informações, iniciou-se o processo de licitação para contratar o projeto de recuperação dessas pontes. Atualmente, o processo encontra-se na Secretaria de Finanças.

Não há necessidade de contratação emergencial, visto que o relatório concluiu que nenhuma ponte da capital apresenta risco de queda.

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