Na última semana, o presidente Lula da Silva (PT) arranjou para si mesmo crises que suplantaram a melhora na economia em sua imagem pública. Segundo pesquisa Datafolha, a aprovação do governo caiu e a reprovação subiu. Provavelmente, o fenômeno se deve às declarações do presidente sobre a guerra entre Israel e Hamas e à tentativa de intervenção na Petrobras, uma Sociedade de Economia Mista, e na empresa privada Vale. A oportunidade eleitoral para a direita se destacar fez com que políticos, visando 2026, aproveitassem o momento para se destacar.
Por meio do Boletim Focus divulgado pelo Banco Central, o mercado revisou a expectativa de inflação para baixo, de 3,82% para 3,80%. A previsão do PIB foi revisada para cima, passando de 1,68% para 1,75% em 2024. Ainda assim, segundo pesquisa Datafolha publicada no dia 11, a aprovação do governo foi de 45% para 38% em relação ao último levantamento, e a reprovação subiu nove pontos, passando de 25% para 34%.
Já há alguns meses, por meio de Rui Costa, Lula tenta emplacar um representante do Ministério da Fazenda para o controle da Vale, privatizada em 2017. O bode na sala foi a proposta de indicar Guido Mantega para a direção; removido o bode, fica a disputa por indicar um nome mais palatável para o mercado. Agora, por meio de uma suposta dicotomia “Rui Costa (o intervencionista) versus Fernando Haddad (o fiscalista)”, se normaliza a proposta de indicar o dirigente da Petrobras.
A dicotomia é falsa. Primeiro, pois Rui Costa representa, na verdade, a visão do próprio presidente, externada por ele em diversas ocasiões. Em segundo lugar, a discussão não é sobre diretrizes de governo. A razão do debate é o fato de que Haddad está interessado em arrecadar para equilibrar as contas. Sendo o governo o principal acionista da Petrobras, a distribuição dos dividendos oferece folga fiscal. Lula, por outro lado, está interessado em usar a companhia para fazer investimentos. Se a disputa se dá entre um ministro e o presidente, então não há disputa de fato: um manda, o outro obedece.
A ideia de que as empresas privadas devem ajustar seus movimentos em consonância com o programa político do governo de turno passa uma mensagem ao investidor. Em um país como o Brasil, carregado de ideias econômicas românticas dos anos 1960, é sempre importante ressaltar que o investidor não é o robber baron detentor de ações. Se você se locomove usando combustível brasileiro, você está interessado nos rumos da Petrobras. Quem não tem segurança sobre os movimentos do governo em seu projeto de estimular o consumo, estoca, gasta menos. Isso faz preço, isso é mercado.
Para que fique claro, no caso da Petrobras, a União é a maior acionista e tem maioria no conselho — sem problemas. A questão é que não é saudável ter um conselheiro do Ministério da Fazenda, como se propôs, com a missão de comunicar à empresa a posição do governo. É um enfraquecimento da governança e uma instrumentalização da companhia de interesse público e privado.
Politicamente, o movimento é também um tiro no pé, pois oferece a opositores a oportunidade de dizer o óbvio. É obviamente uma má ideia repetir a fórmula de usar a Petrobras como indutora de crescimento, a instrumentalizando para forjar investimentos artificiais, gerando insegurança no mercado, afastando investidores privados, causando dependência de investidores públicos, criando dívida pública que precisa de financiamento no mercado, subindo juros, etc.
Aliado à declaração de Lula sobre a guerra entre Israel e Hamas, que causou especial descontentamento entre evangélicos, as tentativas de ingerir nas empresas explicam a piora na popularidade do presidente. Políticos, como Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (UB), aproveitam para capitalizar o momento. Ambos estão em visita a Israel, convidados por associações da sociedade civil. Liberais, ambos contrastam com Lula em suas posturas quanto a ingerência do Estado em empresas privadas.
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