Polícia utiliza agentes infiltrados para combater violência online entre crianças e adolescentes

A violência virtual contra crianças e adolescentes tem se tornado uma preocupação crescente das autoridades. Para conter esse avanço, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo implantou o primeiro Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad), um grupo de “observadores digitais” que se infiltra em comunidades online para identificar e coibir crimes como estupro virtual, automutilação e comercialização de pornografia infantil. Desde sua criação, em novembro de 2024, o núcleo já impediu mais de 80 estupros virtuais, além de identificar redes criminosas que operam em plataformas como Discord, Roblox e Telegram.

A estratégia do Noad consiste na infiltração de policiais civis em grupos e comunidades digitais onde esses crimes são praticados. Esses agentes monitoram as conversas em tempo real, principalmente durante a madrugada, período em que a atividade criminosa costuma ser mais intensa. Assim que um caso suspeito é identificado, os investigadores tentam alertar os responsáveis pelas vítimas e, em alguns casos, acionam outros departamentos da Polícia Civil para realizar intervenções imediatas.

“Viramos a chave quando analisamos o problema com uma lupa e percebemos que é, sim, caso de polícia. São criminosos que se infiltram na internet para cometer crimes graves. Precisamos estar ao lado dos pais e combater isso juntos”, declarou o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite.

A operação do Noad é contínua e conta com um sistema de inteligência que coleta e analisa dados dos crimes cometidos. As informações levantadas são anexadas a inquéritos policiais e, posteriormente, apresentadas ao Poder Judiciário para embasar pedidos de buscas, prisões e internações de suspeitos.

A complexidade da rede criminosa

A delegada coordenadora do Noad, Lisandréa Salvariego, destacou que esses crimes não são isolados, mas fazem parte de um esquema organizado que busca notoriedade nas redes sociais e, muitas vezes, também lucra com a venda de conteúdo ilegal. “É uma rede criminosa que busca notoriedade nas redes sociais perpetuando os abusos. Eles também lucram com a venda de pornografia infantil. E, na grande maioria das vezes, os envolvidos se aproveitam da vulnerabilidade de crianças e adolescentes e da omissão dos responsáveis”, explicou.

Muitos dos abusadores se organizam em grupos conhecidos como “arenas”, espaços onde há troca de mensagens, áudios, vídeos e até transmissões ao vivo de crimes cometidos contra menores. Algumas dessas comunidades chegam a ter 100 mil seguidores ao redor do mundo.

Os investigadores do Noad identificaram que esses criminosos atuam em uma estrutura hierárquica dentro dos grupos, organizando-se de maneira semelhante a gangues. Os recém-chegados, chamados de “soldados”, precisam cumprir desafios para subir de posição e ganhar a confiança dos líderes. 

Outro ponto é que esses grupos são altamente resilientes. Quando um canal de comunicação é derrubado por denúncias, rapidamente surgem novos servidores e comunidades, permitindo a continuidade dos crimes.

Os criminosos utilizam diversas estratégias para atrair e manipular suas vítimas. Em muitos casos, estabelecem uma relação de confiança com crianças e adolescentes antes de chantageá-los. Durante as conversas, coletam informações pessoais e pedem fotos íntimas, que posteriormente são usadas para coagir as vítimas a participarem de desafios humilhantes e violentos, como automutilação e exposição pública.

Primeiros resultados do Noad

Desde sua criação, o Noad já conseguiu impedir mais de 80 estupros virtuais e identificar os responsáveis por diversas redes criminosas. Em dezembro do ano passado, a primeira operação foi deflagrada com o cumprimento de dez mandados de busca e duas prisões temporárias. As ações ocorreram em São Paulo, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e no Distrito Federal.

Um dos alvos da operação foi um adolescente do interior paulista, apontado como um dos “donos” de um grupo investigado. Outro suspeito foi apreendido em Pernambuco, e seu pai também foi preso, pois as contas bancárias utilizadas para movimentar o dinheiro da venda de pornografia infantil estavam em seu nome.

A operação foi batizada de “Nix”, uma referência à mitologia grega, onde Nix é mãe da deusa Nêmesis, codinome usado por um dos criminosos investigados. 

O papel dos pais e responsáveis na prevenção

Os especialistas do Noad ressaltam que o combate à violência virtual não depende apenas da atuação policial, mas também da conscientização dos pais. O núcleo tem promovido campanhas educativas para alertar os responsáveis sobre a importância de monitorar o uso da internet pelas crianças e adolescentes.

A delegada Lisandréa Salvariego reforça que o diálogo dentro de casa é um dos pilares para prevenir esses crimes. “Os pais precisam ser parceiros dos filhos”, pontuou. Para ela, é necessário que os responsáveis façam um acompanhamento de perto do que os filhos acessam na internet e, com isso, impor limites. 

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