Nouriel Roubini sugere blefe e diz que Trump reduzirá tarifas pela metade pra evitar recessão

Nouriel Roubini é um dos economistas que mais acertam nas previsões das crises financeiras dos Estados Unidos, como a de 2008. Experimentado, auxiliou o ex-presidente Bill Clinton.

Numa reunião com economistas e empresários, na Itália, Roubini disse, de acordo com registro da Bloomberg, que “o ‘cenário base’ é que” se o presidente Donald Trump “acabará recuando e reduzirá suas tarifas pela metade, deixando os Estados Unidos com um crescimento econômico entre 1% e 1,5% neste ano”. Assim, as taxas de juros seriam mantidas inalteradas pelo banco central americano, o Federal Reserve.

“Se for racional, Trump vai reduzir as tensões”, sublinhou Roubini. “Ele está dizendo que, a menos que alguém lhe faça uma oferta ‘fenomenal’, não recuará, mas precisa dizer isto, porque, se admitir que vai negociar e reduzir as tensões, perde sua vantagem.” O presidente dos Estados Unidos “precisa” manter o blefe, por assim dizer.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e Xi Jinping, presidente da China: guerra (terceira?) pelo trono da economia mundial só está começando e abalará todo o mundo | Foto: Reprodução

Mohammed El-Erian sugere que “o problema é que outros países podem relutar em fazer concessões a Trump se perceberem que o processo será prolongado”. O ex-mega investidor postula que “a redução das tensões exige que ambos os lados cooperem, e para isso é preciso confiança de que não se trata de um processo em várias rodadas, nos qual se renegocia a cada momento. Isso (a confiança) não existe no momento”.

Bloco liderado pelos EUA pra excluir a China

Num artigo para o “New York Times” (publicado pelo “Estadão”) — “Pare de entrar em pânico. As tarifas de Trump ainda podem funcionar” —, o economista conservador Oren Cass indica que o plano do presidente republicano não é ruim. Mas ressalta que falta ao projeto do governo “tempo para empresas e governos responderem, permanência para aquelas tarifas destinadas a mudar investimentos e uma visão clara dos objetivos e de como alcançá-los”.

Sobre as tarifas altas — as “recíprocas” —, sugere Oren Cass, “a primeira prioridade deve ser escalá-las mais gradualmente, para dar tempo aos mercados e aliados [países] de se adaptarem”.

Oren Cass, economista: mudanças das tarifas deveriam ser graduais | Foto: Reprodução

Oren Cass assinala que Trump age de maneira correta ao “desembaraçar as economias americana e chinesa. Trump está, corretamente, se afastando.

Qual é o objetivo mais decisivo de Trump e dos economistas que o assessoram. “É eliminar grandes desequilíbrios comerciais dentro de um bloco liderado pelo Estados Unidos que exclui a China”, postula Oren Cass.

Num artigo para o “Valor Econômico”, o economista e ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira escreveu que o “objetivo principal” do plano de Trump é “desvalorizar o dólar para tornar a indústria [americana] mais competitiva acabando com déficit na conta corrente. Quer também impedir o desenvolvimento da China”.

Bresser Pereira pondera que as ações de Trump não são as de um maluco. Mas ressalva que “está equivocado ao elevar radicalmente as tarifas e ao fazê-lo de forma diferenciada para este ou aquele país. As previsões catastróficas para a economia dos Estados Unidos que os economistas liberais estão fazendo não se confirmarão, mas as tarifas são uma forma de transferir renda para a indústria que resultará em aumento da inflação, diminuição dos salários reais, e a possibilidade de uma recessão”.

O prejuízo maior será para os Estados Unidos, e não para o resto do mundo, avalia Bresser Pereira.

Luiz Carlos Bresser Pereira: Estados Unidos buscam a substituição de importações | Foto: Reprodução

Reindustrialização dos EUA e recessão

Trump planeja a reindustrialização dos Estados Unidos. Oren Cass pondera: “Se os Estados Unidos vão reduzir seu déficit comercial rapidamente sem cortes dolorosos no consumo doméstico, terão de aumentar a capacidade de produção muito rapidamente, seja para expandir as exportações para outros mercados, seja para substituir importações em casa. (…) Talvez o ponto mais crítico, recursos enormes devem ser investidos no desenvolvimento da força de trabalho”. Bresser Pereira também postula que a política de Trump induz à substituição de importações.

Oren Cass não diz, mas é um fato: a reindustrialização não é, no geral, uma grande geradora de empregos. Porque a robotização das fábricas só aumenta.

A frase perfeita sobre o momento é de Oren Cass: “Até o menor plano muda quando encontra o mundo real”. Apesar de sua fala oblíqua, sugerindo que é amigo do presidente da China, Xi Jinping, Trump até agora não mudou seu plano.

Roubini pontua que, dado ao “alto custo político” — não cita o econômico-financeiro — “de Trump manter seu plano tarifário é tão alto que é evidente que ele mudará de abordagem em algum momento”.

Se Trump “exagerar, teremos uma recessão neste ano [o que Bresser Pereira também prevê]. Se houver uma recessão”, em 2025, “ele perderá as eleições de meio de mandato. Se perder as eleições de meio de mandato, seu plano Maga de dominar os Estados Unidos para sempre será destruído”, frisa Roubini.

“Então, se” Trump “tiver um mínimo de inteligência, saberá que precisa reduzir as tensões”, afirma Roubini. (Frise-se que o plano deve ter sido formulado por economistas inteligentes e nada aloprados, e não exatamente pelo presidente.)

Apesar da crítica que faz ao tarifaço de Trump, Roubini permanece otimista. O economista postula que os “avanços tecnológicos, como a inteligência artificial, impulsionarão ganhos de produtividade e um crescimento econômico mais forte”.

Dada a força da inovação tecnológica, com a IA, Roubini aposta que o crescimento da economia dos Estados Unidos pode saltar de 2% para 4% — “talvez 6% até 2040. É o fator mais relevante, independentemente de qualquer outra coisa. Mesmo Trump, com suas políticas ruins, não pode atrapalhar a inovação tecnológica”.

Uma coisa é certa: Trump mexeu com o mundo, bagunçando-o, mas também retirando todos da zona de conforto.

Portanto, está nascendo uma nova era — a do gigante, os Estados Unidos, que está se movendo para continuar gigante, lutando para não ser superado pela China e, quem sabe, pela Índia.

O vento forte do novo poder econômico está vindo da Ásia. Para desconforto dos ocidentais. Até as big techs, que se avaliam como acima de países e mercados, terão de se socorrer com o governo americano, quer dizer, a Donald, para se protegerem das big techs — fortes na área de inteligência artificial e automóveis elétricos — que vêm da China.

O post Nouriel Roubini sugere blefe e diz que Trump reduzirá tarifas pela metade pra evitar recessão apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.