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“A minha primeira leitura de ‘O Leilão do Lote 49’ foi algo exasperador; em uma segunda leitura, no entanto, subitamente, o livro me arrebatou, e desde então sou seu apreciador. Portanto, exorto os leitores que não conhecem o livro a começar lendo-o duas vezes”, escreveu Harold Bloom, no livro “Como e Por Que Ler” (Objetiva, 275 páginas, tradução de José Roberto O’Shea).
Belamente traduzido por Jorio Dauster, que pegou a veia de Thomas Pynchon de primeira, “O Leilão do Lote 49” é um pequeno livro. Mignon em tamanho, 184 páginas, e gigante em qualidade, daí o entusiasmo de Harold Bloom. Talvez seja a porta de entrada adequada à obra do escritor recluso, como J. D. Salinger.

Os livros de Pynchon são difíceis e cobram um leitor atento às coisas do mundo da cultura e da ciência.
O menos denso é “Vício Inerente” (464 páginas). Menos denso não significa que seja tão fácil de ler assim. É a literatura radiografando a arte, notadamente a música, em parte do século 20.
A tradução, de Caetano Galinho, é, por sinal, precisa. O livro é divertido e recomenda-se que, no instante em que estiver lendo, o leitor consulte o YouTube (e outros) em busca das músicas mencionadas. Será um “passeio literário”, com um guia extraordinário, de primeira linha.
Pynchon e os leitores brasileiros têm sorte, até muita sorte. Porque seus livros foram publicados no Brasil, e com traduções esmeradas, que, em nome da clareza, não sacrificam sua complexidade.

Há no mercado, o de novos e usados, “V.”, “O Leilão do Lote 49”, “Vineland” “O Último Grito”, “O Arco-Íris da Gravidade” (o meu preferido), “Contra o Dia”, “Vício Inerente” e “Mason & Dixon” (que, apesar da pesadão, é ótimo; literatura de alta qualidade).
Por que rememorar o missing Pynchon, o Salinger da hora? Porque li uma nota na “Folha de S. Paulo” (sábado, 12), assinada por Walter Porto, informando que, depois de 12 anos de hibernação, Pynchon saiu da toca e está lançando um novo livro.
Um novo romance de Pynchon na praça — nas livrarias — é um acontecimento cultural e, sim, universal. Merece batucada e escola de samba na avenida. Tal a qualidade de sua obra pregressa.

Imagine o seguinte: Guimarães Rosa, depois de voltar para Cordisburgo, em Minas (seu minério inesgotável é a literatura), decide, depois de 68 anos, lançar seu segundo romance: “Minas Não Há Mais: Mineradoras Devoraram Veredas e Sertão” (misto de ensaio e ficção). Quem, em sã consciência, deixaria de comprar e ler o livro? Ninguém, é claro.
Claro, que, tendo abandonado a vida sobre a terra e “vivendo” sob a terra, Guimarães Rosa, que morreu aos 59 anos (um “menino”), não teve oportunidade de escrever seu segundo romance.
Mas o médico-diplomata-escritor João de seu Florduardo Rosa (uma redundância expressiva) permanece vivo pela força reverberadora de “Grande Sertão: Veredas” e dos contos, como os de “Sagarana”. Quem nunca leu “A Terceira Margem do Rio” e “Miguilim” pode não acreditar, mas “morreu” há 117 anos.

Romance será publicado pela Random House
Aos 87 anos, diferentemente de Machado de Assis e Guimarães Rosa, Pynchon está vivíssimo e, sobretudo, lúcido. Tanto que a Companhia das Letras anuncia, pela voz da “Folha”, que comprou os direitos autorais de seu romance “Shadow Ticket”.
O romance de Pynchon sairá nos Estados Unidos em outubro pela Random House. Já está à venda, na Amazon e Barnes & Nobre (que apresenta uma capa provisória), e tem 615 páginas.
A Companhia das Letras planeja publicá-lo em 2026 — espera-se que com tradução de Jorio Dauster, Paulo Henriques Britto ou Caetano Galindo.

Walter Porto traduz “Shadow Ticket” como “Bilhete das Sombras”. Uma tradução literal, por certo (shadow é sombra e ticket é bilhete) A editora, após a leitura do romance, poderá colocar um título mais adequado aos leitores patropis e, sobretudo, à história narrada.
“A história faz jus a um escritor célebre por navegar entre o tom conspiratório e o nonsense. Descrito como um noir passado durante a Grande Depressão, acompanha um detetive que, na busca pela herdeira de um império de queijo, se vê enredado numa trama que envolve de nazistas a espiões soviéticos, de músicos de big bangs a místicos paranormais”, assinala Walter Porto.
A “Folha” informa também que “Vineland”, um romance do balacobaco, foi adaptado para o cinema por Paul Thomas Anderson com o título de “One Battle After Another”. O filme deve ir às telas nos meses finais de 2025. Anderson levou ao ecrã “Vício Inerente”, que, se não é um filme preciso, captou o humor, digamos inerente, do romance Pynchon.

Se você ainda não leu Pynchon, corra, se ainda estiver vivo, e leia pelo menos dois de seus romances. Por que dois? Porque, depois de dois, você vai ficar “louco”, louquíssimo, para ler os demais. E, claro, ficará vivíssimo.
(Entre os vivos, na literatura americana, Pynchon só tem um par — a grande Joyce Carol Oates, que está passando da hora de ganhar o Nobel de Literatura.)
Texto divulgado pela Livraria Barnes & Noble
“Milwaukee, 1932 — A Grande Depressão a todo vapor, a revogação da Lei Seca se aproximando, Al Capone preso no sistema federal, o ramo da investigação privada migrando das relações trabalhistas para um tipo mais doméstico.
“Hicks McTaggart, um ex-fura-greve que se tornou detetive particular, pensa ter encontrado estabilidade no emprego até ser enviado para o que deveria ser um caso de rotina: localizar e trazer de volta a herdeira de uma fortuna em queijos de Wisconsin que decidiu vagar por aí.
“Antes que perceba, ele é levado para um transatlântico, acabando na Hungria, onde não há litoral, uma língua de outro planeta e doces suficientes para atender qualquer policial aposentado — e, claro, nenhum sinal da herdeira fugitiva que ele deveria estar perseguindo.
“Quando Hicks a alcança, ele também se verá envolvido com nazistas, agentes soviéticos, contraespiões britânicos, músicos de swing, praticantes do paranormal, motociclistas fora da lei e os problemas que vêm com cada um deles, nenhum dos quais Hicks está qualificado, imagine ser pago, para lidar.
“Cercado por uma história que ele não entende e não consegue enxergar dentro ou fora dela, o único lado positivo para Hicks é que estamos no alvorecer da Era das Big Bands e, por acaso, ele é um dançarino muito bom.
“Se isso será suficiente para permitir que ele, de alguma forma, volte de lindy-hop para Milwaukee e para o mundo normal, que pode não existir mais, é outra questão.”
O post Thomas Pynchon lança novo romance, Shadow Tickett, em outubro de 2025. Sai no Brasil em 2026 apareceu primeiro em Jornal Opção.