Você sabia que o goiano Bernardo Élis escreveu conto que supera Joyce e Nabokov?

João Paulo Teixeira

Especial para o Jornal Opção

Há na literatura um poder que poucos sabem nomear, uma espécie de fulgor invisível que transforma a palavra em algo maior do que ela própria.

Bernardo Élis, o maior contista que o Brasil já leu, sabia disso. Ele não apenas escrevia histórias, mas abria frestas para o absoluto, como quem conjura a própria substância do real. Sabe “Dublinenses”, de James Joyce? Pois temos dois “Dublinenses” no Brasil: “Sagarana”, de Guimarães Rosa, e “Veranico de Janeiro”, de Bernardo Élis.

Em “A Cintilante Porta Verde”, Bernardo Élis brinca com os limites da criação literária ao citar um certo E. W. Ghoul, um escritor londrino que não existe. Como você, leitor, sabe, o que não existe na vida pode existir, e maneira verossímil, na literatura. Dizem que há personagens, como Lolita, de Nabokov, que salta do irreal para a realidade…

Mas o que significa não existir? Ghoul é tão real quanto qualquer outro nome impresso no papel. Porque, na literatura, ser citado é ser criado. Ontem mesmo ouvi falar de um Bentinho num bairro de Goiânia.

E o que Bernardo Élis faz aqui é um truque maior do que qualquer prestidigitação narrativa: o ficcionista dá vida a algo que nunca foi.

Version 1.0.0

Nobokov e Machado de Assis ficariam com inveja

Como o argentino Jorge Luis Borges em suas bibliotecas impossíveis, como Machado de Assis em suas ironias fatais, ele nos obriga a acreditar em algo que só existe porque foi escrito. (Veja só: a melhor análise da burocracia moderna está num romance, “O Processo”, de Kafka. Stálin, por sinal, parece um personagem kafkiano ou, dependendo de outra lógica, anti-kafkiano.)

Mas se “A Cintilante Porta Verde” é uma prova do poder da literatura de inventar mundos e realidades, como é o próprio conto, uma invenção, “A Lavadeira que se Chamava Pedra” é a prova de que a sublimação da vida só pode ser extraída com sua seiva pela literatura.

Foi o melhor conto que já li. Maior que “Kolimá”, de Varlam Chalámov, os de Nabokov e até os finos de Machado de Assis (sabe “O Alienista” e “Enfermaria nº 6”, de Tchékhov? Pois é: Bernardo Élis escreveu o magnífico conto “André Louco”). A forma que a gaita chega, a descrição do ladrão, da criança, do arroubo da mãe, tudo é de graça enorme e espetacular que ficou registrado como pedra.

Goiano(brasileiro) que é goiano (brasileiro) tem que ler esse livro, em seleta organizada por pelo crítico e poeta Gilberto Mendonça Teles. É obra-prima e irmã da genialidade.

João Paulo Teixeira, publicitário e dono da agência Mind, é colaborador do Jornal Opção.

O post Você sabia que o goiano Bernardo Élis escreveu conto que supera Joyce e Nabokov? apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.