Crônica de uma Morte Anunciada, de García Márquez, é reflexão sobre destino e culpa

Carlos Willian Leite

Especial para o Jornal Opção

Décimo primeiro livro lido em 2025: “Crônica de uma Morte Anunciada” (Record, 160 páginas, tradução de Remy Gorga Filho), de Gabriel García Márquez.

Considerada uma das obras mais intrigantes, perturbadoras e, em certa medida, engraçadas da literatura latino-americana, a novela “Crônicas de uma Morte Anunciada”, publicada em 1981, explora as circunstâncias bizarras e inevitáveis de um assassinato conhecido previamente por toda a cidade. Desde as primeiras páginas, o leitor conhece o destino trágico do protagonista, Santiago Nasar, criando uma tensão rara, ao mesmo tempo fatalista e cômica, ao longo da narrativa.

Ambientado num pequeno vilarejo caribenho, o enredo gira em torno do assassinato anunciado de Santiago Nasar, acusado injustamente de ter desonrado Angela Vicario, uma jovem recém-casada, devolvida à família na noite de núpcias após o marido descobrir que não era virgem.

Gabriel García Márquez, escritor colombiano e Nobel de Literatura | Foto: Reprodução

Decididos a restaurar a honra familiar, seus irmãos, Pedro e Pablo Vicario (curiosamente, a palavra lembra — trocando o “v” pelo “s” — sicário), anunciam publicamente sua intenção de matar Santiago. Surpreendentemente, nenhum morador toma medidas eficazes para impedir o crime, seja por descrença, negligência ou conformismo, revelando um complexo retrato da cumplicidade social.

A genialidade do romance está justamente na sua estrutura peculiar: García Márquez não apenas revela antecipadamente o fim trágico, mas também mantém uma investigação precisa e instigante das razões, das cumplicidades sociais e das omissões coletivas que possibilitam o assassinato.

O resultado é uma profunda reflexão sobre destino, responsabilidade social e culpa, abordada num tom irônico que diverte, surpreende e provoca. Sem dúvida, é uma obra-prima atemporal, cuja força reside exatamente na forma como expõe nossa condição humana diante do inevitável.

Nota: 9,5

Carlos Willian Leite, poeta, jornalista e editor da “Revista Bula”, é colaborador do Jornal Opção.

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